março 02, 2006

Organizações lançam campanha contra a construção das usinas do Complexo Rio Madeira

5 mil cópias de uma cartilha sobre o assunto começaram a ser distribuídas gratuitamente

Manaus, AM – O lançamento de uma cartilha com os impactos socioambientais previstos com a construção das usinas hidrelétricas Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, deu início nesta quarta-feira (22) a uma mobilização contra esse projeto.

O presidente da organização ambientalista Rio Terra, Alexis Bastos, disse que a cartilha Viva o Rio Madeira Vivo "é o começo de uma campanha popular de mobilização contra essas obras". O texto de 22 páginas será apresentado no Fórum de Debates sobre Energia de Rondônia (Foren) em Porto Velho. "Aqui no estado só o lado bom do empreendimento está sendo apresentado às pessoas, por Furnas, pela mídia e pelo governo", disse.

O organizador do texto, Artur Moret, doutor em Planejamento Energético e professor da Universidade Federal de Rondônia (Unir), disse que é preciso "mostrar o que está por trás da construção dessas usinas, que modelo de integração da Amazônia é esse, que não inclui as pessoas e só se preocupa com o capital".

Moret explicou que foram feitas 5 mil cópias da cartilha, que serão distribuídas gratuitamente em escolas, faculdades, organizações não-governamentais (ONGs), movimentos sociais e veículos de comunicação. "O texto é voltado para formadores de opinião, ele é difícil para quem não tem hábito de leitura", esclareceu Moret. "Mas já estamos trabalhando em uma outra cartilha, mais ilustrada e com linguagem mais simples".

O local do lançamento da campanha é estratégico: na Praça da Estrada de Ferro Madeira Mamoré - Porto Velho, ferrovia que será parcialmente alagada pelas barragens. Além da perda do patrimônio histórico, outros problemas que o empreendimento trará ao estado, apontadas pela cartilha, são o reassentamento de dois mil ribeirinhos, que terão suas casas alagadas, enfrentarão dificuldades em conseguir indenização (porque não possuem documento da terra) e perderão sua fonte de renda (a pesca); o inchamento populacional de Porto Velho; o assoreamento do rio Madeira, nos trechos anteriores às barragens; as alterações ambientais nocivas aos animais e plantas protegidos pelas estações ecológicas de Moji Canava e Serra Dois Irmãos, que ficam na área de influência das usinas.

A capacidade de geração das novas hidrelétricas será de 6,45 mil megawatts, mais da metade da energia produzida pela usina hidrelétrica de Itaipu (a maior do Brasil, com potencial de gerar 11,20 mil megawatts) e 20 vezes o atual consumo total de energia em Rondônia. A construção das duas barragens faz parte da viabilização da hidrovia do rio Madeira, que vai permitir o transporte da soja do Centro-Oeste pelo Oceano Pacífico, passando pela Bolívia e pelo Peru.

As obras devem demorar de oito a dez anos - e só serão iniciadas após a obtenção da licença ambiental prévia, seguida da concorrência pública para sua execução (por meio dos chamados leilões de energia). O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ainda analisa o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) elaborado pelas Furnas Centrais Elétricas e pela construtora Odebrecht. A audiência pública em Rondônia está prevista para abril.

O site www.riomadeiravivo.org deverá trazer informações e ações da campanha Rio Madeira Vivo. Fazem parte do fórum o Grupo de Pesquisa em Energia Renovável e Sustentável da Unir, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a ong ambientalista Canindé, a rede Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), a Organização dos Seringueiros de Rondônia (OSR), a ONG Rio Terra e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).


Fonte: Agência Brasil

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