maio 23, 2007

Das gerações que não são mais futuras, são presentes.

Em breve 15 anos se passarão desde a ECO92 e infelizmente serão essas mesmas gerações nas quais os discursos foram tão enfatizados a realizarem o trabalho que deveria ter sido feito pelas anteriores.

maio 18, 2007

Onde está de fato a nossa riqueza

Por Washington Novaes

“Recursos e serviços naturais tendem a valorizar-se a cada dia. Ainda mais que sua contribuição é e será decisiva para que não se agrave o problema mais dramático do nosso tempo, que está nas mudanças climáticas”

Washington Novaes é jornalista especializado em meio ambiente (wlrnovaes@uol.com.br). Artigo publicado em “O Estado de SP”:

Numa de suas últimas viagens ao Brasil, a escritora norte-americana Hazel Henderson - que, com seus conhecimentos econômicos e financeiros, tem desmontado tantos raciocínios que tentam sustentar o insustentável - disse que, “se você olha para o mundo real, e não para números loucos, vê que, numa análise per capita, o Brasil é um dos países mais ricos do mundo”.

De fato, como classificar de outra forma um território continental onde estão de 10% a 20% da biodiversidade do planeta, 12% do fluxo superficial de água, sol o ano inteiro, uma zona costeira com milhões de quilômetros quadrados?

Principalmente lembrando o estudo feito na Universidade da Califórnia por Robert Constanza e mais um grupo de economistas, para mostrar que, se fosse preciso substituir por ações humanas os recursos e serviços que a natureza presta gratuitamente (fertilidade do solo, regulação do clima, serviços hidrológicos, etc.), se chegaria a um custo de até três vezes o total do produto bruto mundial num ano. Isto é, esses recursos e serviços valeriam hoje até US$ 120 trilhões anuais.

Examinada a questão por outro ângulo, vê-se que recursos e serviços naturais são, cada vez mais, o fator escasso no mundo. Porque, de acordo com relatórios já citados aqui, estamos consumindo 25% além da capacidade de reposição da biosfera, com o déficit crescendo ano a ano.

E, sendo assim, esses recursos e serviços naturais tendem a valorizar-se a cada dia. Ainda mais que sua contribuição é e será decisiva para que não se agrave o problema mais dramático do nosso tempo, que está nas mudanças climáticas.

A conclusão óbvia seria a de que esses recursos e serviços deveriam ocupar um lugar central na estratégia política, econômica e social brasileira, com a definição dos caminhos mais apropriados para preservá-los e utilizá-los racionalmente, evitando perdas, desperdícios e incompetências.

Quem, entretanto, acompanhe o noticiário verá exatamente o contrário. Começará tomando conhecimento da irritação do presidente da República porque não obteve licença prévia um projeto altamente problemático - para dizer o mínimo - de implantação de mega-hidrelétricas na Amazônia.

Irritação seguida da ameaça de implantar em substituição uma usina nuclear, de energia caríssima, insegura e sem destinação para o dramaticamente perigoso lixo nuclear.

Verá também o Ibama sendo fatiado, supostamente porque seria culpado do não-licenciamento daquelas hidrelétricas - e não o incompetente e insuficiente estudo de impacto ambiental das usinas, feito pelos empreendedores.

Em seguida, verá - provavelmente com olhos esbugalhados - o presidente da Agência Nacional de Energia Elétrica propor que “projetos estratégicos considerados prioridade nacional” na área de energia (assim definidos pela Presidência da República) sejam eximidos de licenciamento ambiental e enviados por um Conselho de Defesa Nacional à Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados, para ali serem autorizados.

“Trata-se de um retrocesso sem precedentes no trato da questão ambiental”, comentou uma representante do Ministério Público Federal, Sandra Cureau.

De fato. Em 2003 o Ibama concedeu 145 licenças ambientais, em 2006 foram 278. Mas se faz de conta que o problema está apenas ali, não nas inconveniências de projetos ou na omissão e incompetência de tantos estudos de impacto que lhe são submetidos.

Como quem não quer nada, e se fazendo de surda às vozes e a estudos competentes que mostram a desnecessidade de novas usinas, tantas são as possibilidades de economizar energia ou obtê-la por caminhos mais adequados, a Casa Civil da Presidência vai tramando também mudar a Resolução 237/97, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), para criar exceções convenientes às regras para licenciamento ali estabelecidas.

Para completar, por meio de projetos ou anteprojetos de um novo estatuto para o índio, regras para mineração em áreas indígenas ou áreas de preservação, extração de petróleo em áreas de conservação, vai-se tentando abrir à exploração descuidada ou predatória aqueles recursos e serviços naturais.

Só para que se tenha idéia do vulto do que está em jogo, o Mapa da Geodiversidade no Brasil, feito pelo Serviço Geológico nacional, lista 587 garimpos em áreas de proteção ambiental, dos quais 207 em áreas indígenas, 56 em parques nacionais, 292 em áreas de proteção permanente, 32 em outros tipos de reserva. E assinala 1.906 ocorrências minerais, 20% delas “intocadas”.

Não por acaso, na recente visita do papa, a Articulação dos Povos Indígenas fez chegar a ele carta em que mostra que “falta regularizar 61,76% das áreas indígenas no país, onde vivem 241 povos, com 734 mil pessoas que falam 180 línguas”. Uma riqueza e uma diversidade cultural sem paralelo no mundo.

E ainda considerada, em todos os relatórios do gênero, o caminho mais adequado para a conservação da biodiversidade no país, tais os resultados vistos na prática. Mas, em lugar de reconhecimento, esses povos continuam a assistir ao assassinato de seus líderes (257 em dez anos), ao suicídio em massa em grupos acuados.

Sempre que esse tema entra em discussão, não falta quem diga que “índio já tem terra demais” (até um ex-presidente da Funai entrou por esse caminho).

Esquecido de que qualquer pessoa no Brasil, após alguns poucos anos de ocupação de uma área de terra, tem o direito de reivindicar sua propriedade definitiva, por usucapião. Mas índios, que ocupavam todo o território nacional há séculos, não teriam esse direito.

Se não fosse pelo direito dos índios, deveríamos ter o cuidado de pelo menos lembrar que eles são os melhores guardiães de nossas maiores riquezas. E deixá-los em paz.
(O Estado de SP, 18/5)

maio 13, 2007

Environmental warning on biofuels

Form BBC at Sunday, 13 May 2007, 04:38 GMT 05:38 UK

The drive to switch over to biofuels could lead to rising food prices and deforestation, a report has warned.
The government and EU have said by the year 2020 they want 10% of all fuel in cars to come from biofuels.

But a study by the Co-op Insurance Society suggests achieving this could have a severe environmental impact.

It comes days after a UN report with similar warnings said that biofuels are more effective when used for heat and power, rather than in transport.

Biofuels can be anything made with vegetable matter that burns.

They are seen as a potential solution to climate change because they can reduce emissions of greenhouse gases.

'Radical effects'

The Co-op report claims there is a future for biofuels, but current targets for growing so much fuel could have unintended consequences, BBC correspondent Damian Kahya says.

Professor Dieter Helm, a senior advisor to the British government, told the BBC: "The sort of targets being set for biofuels will have quite radical effects on agriculture and therefore will have very substantial consequences for food prices and agriculture more generally."

The report says that around nine per cent of the world's agricultural land may be needed to replace just 10% of the world's transport fuels.

This means the production of biofuels could lead to a decrease in land available for food production in countries where famine already exists.

"People are felling rainforests to plant crops to grow energy fuels, biofuels," Professor Helm said.

"Think of the energy involved in felling those rainforests. Think about the damage to the climate being done by the loss of those trees. Think about the ploughing and the cultivation of fields.

"Think about the transport of those fuels, and you start to realise the carbon imprints are about much more than simply what happens to grow in a particular field at a particular point in time."

maio 08, 2007

Futuro do etanol nos EUA vai depender da oferta de fertilizantes


Enviado por bonamigo em 29/03/07 14:28 Notícias do mesmo autor

Há nos Estados Unidos um outdoor mostrando um fazendeiro norte-americano ao lado de um xeique do petróleo árabe, com a pergunta: "De quem você deseja comprar a sua gasolina?".

O objetivo da propaganda é promover o etanol feito no país, a partir do milho, como parte de um projeto de independência energética.

A ironia é que os Estados Unidos terão que depender fortemente dos fertilizantes a base de nitrogênio para expandir a sua produção de milho, e vários desses produtos são fornecidos exatamente por aqueles países dos quais Washington quer reduzir a sua independência energética.

Neste ano, os Estados Unidos deverão implementar o maior aumento já registrado em um século da sua área plantada com milho, e os comerciantes calculam que isso exigirá um milhão de toneladas extras de fertilizantes. É uma quantidade tão grande que alguns comerciantes dos Estados Unidos dizem que o país poderá ficar carente de adubo, já que os produtores no Golfo Pérsico estão tendo dificuldade para atender à demanda internacional.

Os preços dos fertilizantes a base de nitrogênio atingiram níveis recordes. Calcula-se que os Estados Unidos gastarão inéditos US$ 1,6 bilhão neste ano com importações de fertilizantes. Devido à esperada elevação da demanda por fertilizantes nos Estados Unidos neste ano, alguns comerciantes acreditam que o mercado desses produtos no país sofrerá um arrocho, e que os preços aumentarão ainda mais.

"Creio que poderemos ter um ano interessante. A demanda está aumentando mais rapidamente que a oferta, e isso só pode significar uma coisa: preços mais elevados", afirma um comerciantes norte-americano de fertilizantes.

Andrew Prince, funcionário da British Sulphur, uma empresa de consultoria, afirma que os preços dos fertilizantes a base de nitrogênio deverão chegar a cerca de US$ 365 a tonelada neste ano, contra uma média de US$ 270 registrada no ano passado.

No início da década, quando os Estados Unidos eram praticamente auto-suficientes em fertilizantes, o preço da tonelada era de aproximadamente US$ 100. Agora os Estados Unidos precisam importar esse tipo de fertilizante, já que várias das usinas petroquímicas do país que produziam uréia, um composto que contém nitrogênio, fecharam as portas quando o preço do gás natural norte-americano disparou, alcançando níveis sem precedentes em 2003. A uréia é feita a partir da amônia, que é derivada do gás natural.

Prince diz que a produção de uréia é um negócio com pequena margem de lucro, e que somente os produtores de gás natural e petróleo de baixo custo são capazes de permanecer no negócio quando os preços do gás e do petróleo sobem. O Oriente Médio e a Rússia contam com as maiores reservas de gás do mundo.

Na verdade, as companhias norte-americanas têm ajudado a financiar e a construir fábricas de derivados de nitrogênio no exterior, já que os produtores domésticos estão sobrecarregados pelos altos custos operacionais. As companhias dos Estados Unidos também deslocaram algumas das suas fábricas para Trinidade e Tobago, onde as reservas de gás criaram um setor petroquímico, incluindo unidades de produção de amônia.

O US Export-Import Bank ajudou a financiar as obras de uma fábrica de amônia no Egito, que está sendo construída pela Kellog, Brown e Root. Até mesmo alguns adversários políticos dos Estados Unidos estão aumentando a sua capacidade de produção de amônia e uréia. No ano passado o Irã inaugurou instalações capazes de produzir até 1,08 milhão de toneladas anuais de uréia.

Segundo dados do Departamento de Pesquisas Geológicas dos Estados Unidos, os Estados Unidos importaram 21% da uréia de que necessitaram em 2005 do Qatar e da Arábia Saudita. O departamento também prevê que qualquer nova usina produtora de amônia será construída fora dos Estados Unidos. Segundo o departamento, unidades capazes de produzir um total de 3,2 milhões de toneladas serão construídas no Brasil, no Egito, na Índia e na Venezuela até o final de 2009.

Prince afirma que em vez de reduzir a dependência das fontes externas de energia, os Estados Unidos estão criando um grande mercado para os exportadores de uréia, já que o país responde por 90% das importações globais do produto, que é usado predominantemente como fertilizante. No início da década os Estados Unidos eram praticamente auto-suficientes em uréia.

"A idéia de que produzir etanol modificará a dependência norte-americana de fontes externas de energia é falsa, já que os Estados Unidos ainda precisarão importar nitrogênio de outros países, visto que não são capazes de produzirem esse produto", critica ele.

Acredita-se que o aumento de área plantada com milho ocorrerá em detrimento da soja. A soja não necessita de fertilizantes à base de nitrogênio.

Com a expectativa de que os Estados Unidos aumentem a área plantada com milho ainda mais nos próximos anos a fim de elevar as reservas de etanol destinado ao consumo doméstico, o país poderá se tornar ainda mais dependente dos suprimentos de fertilizantes estrangeiros à base de nitrogênio. Os Estados Unidos não pretendem reabrir as fábricas que foram fechadas no início da década.

Tradução: UOL
Fonte: Financial Times

Comida X Combustível

03.05.2007

No mundo, a produção de energia tira espaço dos alimentos no campo e recoloca o Brasil no injusto papel de vilão ambiental

A crise das Tortillas, no México: inflação por causa do etanol
Por Felipe Sobel

EXAME O etanol passou do papel de mocinho para o de bandido em poucas semanas. De alternativa de energia ecologicamente correta capaz de livrar o mundo da dependência do petróleo e aliviar a emissão de poluentes na atmosfera, virou um elemento com potencial para bagunçar o sistema agrícola mundial e inflacionar o preço dos alimentos. Essa percepção negativa foi manifestada recentemente por vários políticos e especialistas. No início do mês passado, por exemplo, um artigo publicado pelos economistas C. Ford Runge e Benjamin Senauer na respeitada revista americana Foreign Affairs alertava que a produção do álcool pode levar a um aumento do preço da comida, agravando o problema da fome nos países mais pobres. Dias depois, durante a 1a Cúpula Energética Sul-Americana, realizada na Venezuela, o presidente do país anfitrião, Hugo Chávez, pressionou para que o documento final do encontro fizesse um alerta sobre os problemas que poderiam ser causados pela expansão do biocombustível, mas a diplomacia brasileira barrou a idéia. Até o ditador cubano Fidel Castro, afastado do governo por problemas de saúde, resolveu meter sua colher na polêmica. Num texto publicado pelo jornal oficial Granma, Fidel caprichou na retórica apocalíptica, classificando a política de investimento no etanol como a "internacionalização do genocídio".

Por ser um dos maiores produtores de etanol do mundo, o Brasil encontra-se hoje sob a mira dos críticos. Na visão de muitos deles, o aumento do uso da cultura da cana para a fabricação de etanol representa uma ameaça à produção de alimentos para o país e para todo o mundo. Com isso, o país foi recolocado no posto de vilão ambiental do planeta (veja Vida Real na pág. 44). Além de uma imagem injusta, o raciocínio de que o investimento nacional em etanol vai agravar o problema da fome no mundo não encontra lastro na realidade. Embora tenha aumentado a destinação de matéria-prima para a produção de combustível, o Brasil não reduziu seu ritmo de produção de alimentos. Pelo contrário. A atual safra de grãos, de 125 milhões de toneladas, bateu recorde histórico. Além disso, o país tem hoje as melhores condições para multiplicar as áreas de canaviais, sem prejuízo de outras culturas. Um grupo do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República identificou 12 novas fronteiras adequadas ao plantio da cana-de-açúcar, sem qualquer tipo de impedimento legal ou ambiental. Elas se concentram em São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás e totalizam quase 80 milhões de hectares, área equivalente à soma dos territórios de Alemanha e Espanha. "Além de termos terra sobrando, somos campeões de produtividade em etanol", afirma Eduardo Carvalho, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar.

Em boa parte, as preocupações a respeito dos efeitos colaterais da expansão do etanol têm sido baseadas no comportamento dos preços mundiais de alguns grupos de alimentos nos últimos meses. Um episódio emblemático ocorreu em fevereiro, quando dezenas de milhares de pessoas tomaram as ruas de dez cidades do México para realizar o protesto que ficou conhecido como a marcha das tortillas. Prato de resistência da culinária local, a iguaria teve seu preço aumentado em 400% nos últimos meses. A variação foi provocada pelo aumento de seu principal ingrediente, o milho, que no caso mexicano é importado dos Estados Unidos. Como os americanos estão transformando em etanol boa parte dos grãos produzidos em seu território, o alimento está cada vez mais escasso para exportação. Com isso, a tortilla se tornou vítima de uma alta gerada pela clássica lei da oferta e da procura. De um ano para cá, a cotação do milho nas bolsas de Chicago e Nova York sofreu valorização de 50%. O alto preço da commodity pode afetar uma extensa cadeia de empresas que utilizam a matéria-prima na fórmula de seus produtos ou como ração para animais. A lista inclui leite, carne de frango e refrigerantes, entre outros itens.

Estados Unidos (Milho)
Total destinado à produção de alimentos (em %)
2005 86
2010(1) 71
2014(1) 64
Total destinado à produção de etanol (em %)
2005 14
2010(1) 29
2014(1) 36
(1) Projeção Fontes: USDA, Unica e Agroconsult


Brasil (Cana-de-açúcar)
Total destinado à produção de alimentos (em %)
2005 53
2010(1) 41
2014(1) 33
Total destinado à produção de álcool (em %)
2005 47
2010(1) 59
2014(1) 67
(1) Projeção Fontes: USDA, Unica e Agroconsult

Outro dos efeitos colaterais da corrida em busca dos combustíveis verdes são as queimadas que estão destruindo largas porções de florestas nativas na Ásia, sobretudo na Malásia e Indonésia. Isso ocorre para que a mata possa ser ocupada por plantações de palmeiras de dendê, cujo óleo é uma das matérias-primas para o biodiesel. No Brasil, o que preocupa os ecologistas é a expansão dos canaviais, que estaria empurrando a pecuária para áreas de preservação ambiental. "Mato Grosso do Sul é um dos exemplos de locais onde esse processo está ocorrendo", afirma Sérgio De Zen, professor de economia e administração da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em São Paulo.

À luz da alta recente de preços alimentares e de problemas ambientais, cada vez mais gente tem embarcado no pessimismo quando o assunto é etanol. Segundo essa corrente, o mundo estaria conhecendo hoje apenas os primeiros sintomas de uma doença muito mais grave, pois os investimentos na fabricação do etanol vêm se multiplicando. No Brasil, quase metade da cana-de-açúcar que entra no processamento das usinas já é destinada exclusivamente à produção de etanol, avançando sobre a fatia antes usada para o açúcar. Segundo as estimativas do setor, até 2014 a proporção de matéria-prima destinada à fabricação de combustível deve chegar a quase 70% (veja quadro). O dado fica mais impressionante quando se considera que o país deverá dobrar no período a área desse cultivo. Nos Estados Unidos, ocorre um fenômeno semelhante. Atualmente, apenas 14% do milho plantado vira etanol. Em 2014, a proporção vai subir para 36%.

O avanço das culturas destinadas à produção do combustível realmente impressiona, mas isso não significa que o planeta corre o risco de virar um grande milharal e canavial. Em suas previsões apocalípticas sobre o tema, muitos críticos simplesmente estão ignorando o efeito do avanço tecnológico na produção agrícola. Isso fica claro quando se analisa o cenário brasileiro. A curto prazo, o país tem boas chances de evoluir rapidamente na produção de etanol com a aprovação e o uso de novas variedades de sementes transgênicas. Elas têm potencial de aumentar em média 4,5% ao ano a produtividade das culturas de cana-de-açúcar. Outra forma que está sendo utilizada para melhorar a performance no campo é a transformação da pecuária extensiva em semi-intensiva. Com isso, largas áreas ocupadas por gado podem ser utilizadas para cultivo de produtos agrícolas. Além de não prejudicar a produtividade da pecuária, esse sistema aumenta a rentabilidade do produtor. "Ganho dinheiro arrendando parte das minhas terras para uma usina de álcool da região e economizo em ração, pois meu gado passou a ser alimentado com bagaço de cana-de-açúcar", afirma o fazendeiro Francisco Junqueira, um dos maiores pecuaristas de São Paulo. Há dois anos, quando firmou um acordo com a usina, metade dos 7 000 hectares de suas propriedades em Lins, no interior paulista, deixou de servir de pasto. No lugar, hoje se vêem tapetes de canaviais. Junqueira continua criando as mesmas 10 000 cabeças de gado, mas numa área muito menor.

Oportunidades para o Brasil
À medida que os agricultores americanos se dedicam a expandir as plantações de milho para a produção de etanol, em prejuízo de outras culturas, surgem espaços no mercado dos Estados Unidos que podem ser aproveitados pelos produtores brasileiros
Milho
Com as plantações nos Estados Unidos canalizadas para a produção de combustível, começa a faltar milho no país para alimentação. Em razão disso, o preço do produto já aumentou 40%. O Brasil é o país que tem maiores possibilidades de suprir essa demanda
Soja
As plantações do grão perdem espaço para o milho nos Estados Unidos. A tendência é uma valorização da soja, e o único país capaz de expandir rapidamente a fronteira é o Brasil

NO CASO DO PRINCIPAL concorrente brasileiro no mercado do combustível verde, o cenário é outro, a ponto de a revista inglesa The Economist, num artigo recente, usar as expressões bom e mau etanol para ilustrar a diferença. Segundo a revista, a produção brasileira está no campo positivo e, a americana, no negativo. Nos Estados Unidos, a briga por espaço no campo entre culturas destinadas à comida e à energia é uma realidade. Como o terreno para a expansão agrícola é bem mais restrito por lá, as plantações de milho só podem crescer se roubarem espaço de outras culturas, como a de cevada, o que pode levar as cervejas a sofrer o efeito tortilla. Em razão das quantidades cada vez maiores de grãos canalizados para a fabricação de etanol, os avicultores também enfrentam problemas. Estima-se que seus custos vêm crescendo à média de 1,5 bilhão de dólares por ano em razão da alta de preço do milho utilizado nas rações. As mudanças no agronegócio americano são tão abruptas que a capital do gado, o Texas, transformou-se na terra do etanol. Duas das maiores usinas de álcool do país estão sendo construídas no estado e devem entrar em operação até dezembro. Ao todo, os Estados Unidos estão investindo 16 bilhões de dólares na construção de 80 novas usinas para a fabricação de combustível nos próximos anos.

Apesar da facilidade que a maior potência econômica tem para injetar dinheiro no negócio, está cada vez mais claro que o modelo em que ele se sustenta hoje é equivocado. Além de provocar transformações negativas no agronegócio americano, a fabricação de etanol com base no milho está longe de ser um exemplo em termos de eficiência. O combustível obtido no Brasil com a cana-de-açúcar leva vantagem no preço final (25% mais barato) e na produtividade de litros por hectare (o dobro da média americana). Se não bastasse, a cana-de-açúcar gasta quatro vezes menos energia do que o milho para que se fabrique o etanol (ou seja, não adianta nada ter um combustível verde que precisa de uma quantidade enorme de diesel para ser fabricado). Os Estados Unidos vêm comendo poeira nessa área mesmo com o governo George W. Bush injetando subsídios no setor (foram 9 bilhões de dólares só no ano passado). Para proteger o mercado interno, Bush ainda dificulta a importação do produto impondo barreiras -- cada galão de etanol brasileiro paga 0,54 dólar de "pedágio" para entrar nos Estados Unidos.

Mas a evolução tecnológica também pode mudar as coisas por lá -- pelo menos é o que apostam algumas das figuras mais destacadas da sociedade americana. "A atual geração de etanol envolve uma certa polêmica, mas, se trabalharmos corretamente, em cinco anos teremos uma nova geração de combustíveis verdes", afirmou numa palestra recente o ex-vice-presidente americano Al Gore. Um dos produtos mais promissores dessa nova geração é o chamado etanol celulósico, que pode ser feito de qualquer tipo de planta, incluindo a palha de milho e o bagaço da cana-de-açúcar. Na visita recente de George W. Bush ao Brasil, os dois países firmaram um acordo que prevê parcerias em pesquisa para o desenvolvimento comercial do produto. As previsões de quando isso pode acontecer variam de cinco a dez anos. "Com essa tecnologia, vai ocorrer uma expansão vertical da produção", afirma Marcos Jank, presidente do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone). "O combustível obtido da celulose vai permitir dobrar a produtividade do etanol, atualmente de 7 000 litros por hectare."

Em razão dos benefícios que os avanços tecnológicos devem trazer a esse campo, é mais fácil Fidel Castro se naturalizar cidadão americano do que o etanol gerar uma "internacionalização do genocídio". Em termos de futuro, o que é líquido e certo é que o mapa agrícola mundial nunca mais terá a mesma cara depois do advento dos biocombustíveis. No Brasil, além da expansão da cana-de-açúcar, a tendência é ocorrer um investimento maior na cultura do milho, a fim de suprir a demanda dos Estados Unidos de grãos para alimentação (veja quadro). Num futuro próximo, largas porções da Ásia e da Europa devem privilegiar culturas destinadas a irrigar a produção de biodiesel.

A velocidade das transformações no mapa agrícola mundial vai depender do aumento da demanda pelos combustíveis verdes. Nos Estados Unidos, a intenção do presidente Bush é que, dentro de uma década, eles representem 15% do total consumido por carros e caminhões no país. Na Europa, a idéia é que eles substituam 6% do diesel atualmente consumido até 2010. Planos semelhantes vêm sendo adotados em outros países, como o Japão, com o objetivo de reduzir a emissão de poluentes na atmosfera. Alguns analistas entendem que, mesmo se o movimento conduzir a um pequeno aumento de preço dos alimentos -- por ora algo ainda no terreno das hipóteses --, não será necessariamente uma coisa ruim. Faz sentido. Não há mesmo como chamar de catástrofe um processo que pode, ao mesmo tempo, melhorar a renda no campo e a qualidade de vida no planeta.

maio 05, 2007

Biofuels - the next big threat to Africa

By Teresa Anderson of the Gaia Foundation:

Dear Friends and Colleagues,

This year has seen the beginning of what promises to be the next new large-scale threat to Africa's food, land, environment and farmers - Biofuels.

The reality of Climate Change has now been accepted by world governments and industry, and with it, acceptance that Carbon Dioxide (CO2) from burning fossil fuels is responsible for heating the planet's atmosphere and changing weather patterns.

Everyone agrees that CO2 emissions must be reduced, but one of the solutions proposed is likely to create more social and environmental problems, and probably more CO2, than they claim to solve. As Europe in particular looks to alternatives to fossil fuels such as oil and coal, Biofuels from crops such as maize, sugar, soya and palm oil, are being promoted as the new "green" solution.

However, Europe does not have enough land to grow its fuel needs. For example, even if the UK were to turn over all of its land to growing biofuels instead of food, it would need 4 times the amount of land to make enough fuel to meet its current needs. Europe is therefore looking to Africa to provide the land that will grow the fuel.

Already, we hear of large-scale biofuels projects mushrooming across Africa, with the supports of governments keen to believe that this is the economic boom of Africa's future. Tanzania, Uganda, Ethiopia, South Africa, Zambia, Ghana, Benin and other countries are at the forefront of the new Biofuels Boom.

However, the negative stories follow these projects just as quickly. Protests, riots and arrests broke out in Uganda last month over the government's plans to degazette Mabira Forest, the largest rainforest area in the country. The forest was to be handed over and cut down for sugar plantations - some of which would go to producing biofuel ethanol. Other news shows that land grabs, deforestation and increasing food prices come about as a result of growing fuel instead of food.

Using land to grow fuel instead of food, rising grain prices, and the displacement of rural communities will lead to greater food insecurity in Africa. Any environmental benefits from using biofuels instead of fossil fuels will be cancelled out as forests, peatlands, mangroves and protected areas are cut down, burned, and converted to farmland. And the GM industry intends to use this as an opportunity to promote GM biofuels, to gain a foothold into Africa where there has been hard-fought resistance to GM contamination of food.

While campaigns in Europe against increased biofuel targets are just starting up (see www.biofuelwatch.org), African farmers, communities, civil society and governments also urgently need to wake up and raise awareness about the threats. We need to act before the land is given away, the forests are cut down, and the food priced out of the reach ofthe poor.

Best wishes,
Teresa

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1. Rural Communities Express Dismay: "Land Grabs Fuelled by Biofuel Strategy."
Statement from South African Civil Society. Date: March 2007
[see also: http://www.stopbp-berkeley.org/docs/Biofuel-Workshop-Durban-Proceedings.pdf ]
2. Biofuels Boom Spurring Deforestation
Article from Inter Press Service. Date: 22 March 2007
Stephen Leahy
http://ipsnews.net/news.asp?idnews=37035
3. Biofuel Demand Makes Food Expensive
Article from BBC. Date: 23 March 2007
Nils Blythe
http://news.bbc.co.uk/2/hi/business/6481029.stm
4. The Next Genetic Revolution?
Article from The Ecologist. Date: 29 March 2007
Robin Maynard and Pat Thomas
http://www.theecologist.org/archive_detail.asp?content_id=831
5. If We Want to Save the Planet, We Need a Five-Year Freeze on
Biofuels
Article from the Guardian. Date: 27 March 2007
George Monbiot
http://www.guardian.co.uk/commentisfree/story/0,,2043724,00.html
6. Biofuel Crop Rejected
Article from Cape Times. Date: 28 March 2007
Melanie Gosling
http://www.int.iol.co.za/index.php?set_id=1&click_id=14&art_id=vn20070328014024150C782941


O último capítulo

Por Eric Macedo, O Eco
03.05.2007

A última parte do que vem sendo considerado o mais importante documento sobre as mudanças climáticas será divulgada às 13h desta sexta-feira em Bancoc, na Tailândia (para desespero da redação de O Eco, três da manhã no horário de Brasília). Trata-se do terceiro segmento do quarto relatório (AR4) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Desde segunda-feira, diplomatas têm se debruçado sobre as 24 páginas do seu sumário executivo,
que fala sobre as medidas de mitigação dos efeitos do aquecimento global. O teor da seção tem sido adiantado há algum tempo pela imprensa, com o vazamento de informações do rascunho preparado por um grupo de 190 cientistas de todo o mundo. Agora esse documento está nas mãos de delegações de mais de cem países, que negociam modificações no texto com os pesquisadores.

O relatório preparado pelos cientistas pede mudanças bruscas no uso mundial de energia, sob a ameaça de que as emissões cresçam no mínimo 40% entre 2000 e 2020, se os governos cruzarem os braços. Para evitar uma catástrofe, dizem os membros do painel, só agindo rapidamente. E o tempo está se esgotando. Segundo uma notícia publicada recentemente pela agência Reuters, as soluções propostas são velhas conhecidas: passam pela mudança para combustíveis menos poluentes, diminuição das emissões da agricultura (proveniente do uso de
químicos) e tudo relacionado à eficiência energética, como edificações e iluminação que gastem menos eletricidade.

O relatório também sugere a captura de carbono em usinas a carvão, o uso de energias renováveis, como solar e dos ventos. Como adiantou a O Eco o engenheiro Roberto Schaeffer, um dos autores do relatório, o documento tem capítulos sobre transporte, indústria e edificações, focando os usos finais da energia. Entre outras coisas, o uso de janelas duplas em países frios pode diminuir a necessidade de aquecimento artificial e há grande potencial
para fabricação de eletrodomésticos mais econômicos. Para o professor de planejamento energético da Coppe/UFRJ, a importância do relatório está em chamar atenção para o fato de que há, hoje, tecnologia suficiente para realizar as mudanças necessárias. E que será preciso incorporar as mudanças climáticas em qualquer política de desenvolvimento que se pense daqui para frente. "É possível aos países continuar a se desenvolver com menos emissões", diz o
cientista.

Os custos das medidas não são nada absurdos: ficam entre 0,2 % e 3% do Produto Interno Bruto mundial. Isso até 2030. O gasto aumenta de acordo com a rapidez que se quer fazer no corte de emissões. E quanto maior o corte, também mais caro. As conclusões confirmam as afirmações do economista Nicholas Stern, que divulgou no ano passado um relatório sobre os custos da ação contra o aquecimento: ele pode chegar a 20% do PIB se o mundo empurrar o problema
com a barriga. "Os esforços de mitigação pelas próximas duas ou três décadas vai determinar em larga medida o aumento na temperatura média a longo prazo e os impactos da mudança climática correspondente que podem ser evitados", diz a primeira versão do sumário, segundo o The New York Times. Não importa o que se faça, entretanto, os especialistas dizem que haverá um aumento mínimo de temperatura entre 2ºC e 2,4ºC.

Ainda segundo o rascunho, os países em desenvolvimento oferecem boas oportunidades para se evitar novas emissões, uma vez que estão diante de uma potencial aceleração da industrialização e construção. Pode-se evitar o crescimento da poluição escolhendo bem as usinas de geração de energia e o design dos edifícios. Mas, nas negociações, são justamente esses países que querem tirar o corpo fora das grandes ações de combate ao aquecimento. A idéia é preservar as regalias adquiridas desde o Protocolo de Kioto, que estabelece que os países desenvolvidos são mais responsáveis pelo aquecimento uma vez que basearam sua industrialização no uso de energias sujas e, por isso, são eles que devem se esforçar para desfazer o estrago. O tratado, que não obriga os países em desenvolvimento a fazer reduções, vai ser rediscutido em 2012.

Pano para manga

Desta vez, o movimento começou com a China, cujos delegados apresentaram a maioria das 1.500 propostas de modificação do rascunho. O país deve se tornar ainda este ano o maior emissor mundial de gases do efeito estufa. E o governo não quer se ver atado a compromissos de redução de emissões "uma vez que a maior parte de sua energia é gerada pela queima de carvão, o combustível que mais emite gases poluentes " quando novas ações forem propostas em fóruns internacionais.

Segundo uma reportagem da revista britânica New Scientist, um dos principais pedidos dos chineses é "que seja feita uma inserção no último parágrafo que culpe as nações industrializadas pela maior parte da poluição" segundo os asiáticos 75% da culpa. E eles não estão sozinhos. Brasil e Índia resolveram apoiar as suas demandas. O fato acabou acirrando um certo "conflito entre
ricos e pobres", que tem aparecido com freqüência nas discussões sobre o aquecimento global. Schaeffer diz que o relatório lembra a disparidade entre emissões per capta de países desenvolvidos e em desenvolvimento. Para o pesquisador, há coerência das exigências com o princípio de "responsabilidades comuns, porém diferenciadas" que regeu as discussões na Eco 92. "Há que envolver os países em desenvolvimento [nas metas de redução], mas não no mesmo pé de igualdade", opina o engenheiro.

O fato é que as negociações políticas têm se tornado cada vez mais acirradas a cada encontro do IPCC realizado. À medida em que sobem as certezas dos cientistas quanto ao fenômeno, maior a divergência política entre os países, que querem se livrar de responsabilidades que criem empecilhos às suas economias. Como mostra uma outra reportagem da Reuters, o painel da ONU não tem forças para mudar a realidade na prática. "O IPCC não tem músculos, só massa cinzenta", disse o presidente do grupo, Rajendra Pachuri, a repórteres da agência. Mas fazer algo, para ele, é urgente. "A ciência certamente dá muitas e forçosas razões para agir".

* Felipe Lobo colaborou com esta reportagem.

maio 03, 2007

‘Choradeira’, só se for pelo meio ambiente

Por Gustavo Barreto

Usar a mídia deles contra eles próprios. Esta foi a forma que o Greenpeace achou para protestar contra a multinacional Kimberly-Clark, que produz o papel Kleenex e outros produtos de papéis descartáveis com árvores de antigas florestas ('ancient forests'), incluindo a Floresta Boreal do Canadá.

Em uma das campanhas de mídia da Kimberly-Clark, as pessoas eram convidadas a sentar em um sofá colocado no meio de uma movimentada rua de Nova Iorque. A idéia era fazer com que as pessoas falassem sobre assuntos pessoais de triste lembrança e, ao chorarem, utilizassem os lenços Kleenex.

Os ativistas fizeram, então, uma ação durante as gravações. Uma das integrantes do grupo se ofereceu para falar, sem anunciar que era ativista do Greenpeace, ao mesmo tempo em que seus colegas preparavam cartazes da campanha, que pedia mudanças na política ambiental da Kimberly-Clark. O resultado está no vídeo abaixo.

Os ativistas também ocuparam a fábrica da multi em Ontário, no Canadá, e intervieram em reuniões de acionistas e conselheiros da empresa, no Texas, Estados Unidos. As ações foram em fevereiro deste ano, mas a campanha continua. O Greenpeace prometeu que irá continuar a interromper as operações da Kimberly-Clark e mobilizar os seus clientes até que o seu CEO Thomas Falk e a sua empresa parem de destruir a Floresta Boreal.

O vídeo está disponível em http://www.youtube.com/watch?v=sZCym0DB7hA
Conheça a campanha pelo site http://www.kleercut.net/