Há nos Estados Unidos um outdoor mostrando um fazendeiro norte-americano ao lado de um xeique do petróleo árabe, com a pergunta: "De quem você deseja comprar a sua gasolina?".
O objetivo da propaganda é promover o etanol feito no país, a partir do milho, como parte de um projeto de independência energética.
A ironia é que os Estados Unidos terão que depender fortemente dos fertilizantes a base de nitrogênio para expandir a sua produção de milho, e vários desses produtos são fornecidos exatamente por aqueles países dos quais Washington quer reduzir a sua independência energética.
Neste ano, os Estados Unidos deverão implementar o maior aumento já registrado em um século da sua área plantada com milho, e os comerciantes calculam que isso exigirá um milhão de toneladas extras de fertilizantes. É uma quantidade tão grande que alguns comerciantes dos Estados Unidos dizem que o país poderá ficar carente de adubo, já que os produtores no Golfo Pérsico estão tendo dificuldade para atender à demanda internacional.
Os preços dos fertilizantes a base de nitrogênio atingiram níveis recordes. Calcula-se que os Estados Unidos gastarão inéditos US$ 1,6 bilhão neste ano com importações de fertilizantes. Devido à esperada elevação da demanda por fertilizantes nos Estados Unidos neste ano, alguns comerciantes acreditam que o mercado desses produtos no país sofrerá um arrocho, e que os preços aumentarão ainda mais.
"Creio que poderemos ter um ano interessante. A demanda está aumentando mais rapidamente que a oferta, e isso só pode significar uma coisa: preços mais elevados", afirma um comerciantes norte-americano de fertilizantes.
Andrew Prince, funcionário da British Sulphur, uma empresa de consultoria, afirma que os preços dos fertilizantes a base de nitrogênio deverão chegar a cerca de US$ 365 a tonelada neste ano, contra uma média de US$ 270 registrada no ano passado.
No início da década, quando os Estados Unidos eram praticamente auto-suficientes em fertilizantes, o preço da tonelada era de aproximadamente US$ 100. Agora os Estados Unidos precisam importar esse tipo de fertilizante, já que várias das usinas petroquímicas do país que produziam uréia, um composto que contém nitrogênio, fecharam as portas quando o preço do gás natural norte-americano disparou, alcançando níveis sem precedentes em 2003. A uréia é feita a partir da amônia, que é derivada do gás natural.
Prince diz que a produção de uréia é um negócio com pequena margem de lucro, e que somente os produtores de gás natural e petróleo de baixo custo são capazes de permanecer no negócio quando os preços do gás e do petróleo sobem. O Oriente Médio e a Rússia contam com as maiores reservas de gás do mundo.
Na verdade, as companhias norte-americanas têm ajudado a financiar e a construir fábricas de derivados de nitrogênio no exterior, já que os produtores domésticos estão sobrecarregados pelos altos custos operacionais. As companhias dos Estados Unidos também deslocaram algumas das suas fábricas para Trinidade e Tobago, onde as reservas de gás criaram um setor petroquímico, incluindo unidades de produção de amônia.
O US Export-Import Bank ajudou a financiar as obras de uma fábrica de amônia no Egito, que está sendo construída pela Kellog, Brown e Root. Até mesmo alguns adversários políticos dos Estados Unidos estão aumentando a sua capacidade de produção de amônia e uréia. No ano passado o Irã inaugurou instalações capazes de produzir até 1,08 milhão de toneladas anuais de uréia.
Segundo dados do Departamento de Pesquisas Geológicas dos Estados Unidos, os Estados Unidos importaram 21% da uréia de que necessitaram em 2005 do Qatar e da Arábia Saudita. O departamento também prevê que qualquer nova usina produtora de amônia será construída fora dos Estados Unidos. Segundo o departamento, unidades capazes de produzir um total de 3,2 milhões de toneladas serão construídas no Brasil, no Egito, na Índia e na Venezuela até o final de 2009.
Prince afirma que em vez de reduzir a dependência das fontes externas de energia, os Estados Unidos estão criando um grande mercado para os exportadores de uréia, já que o país responde por 90% das importações globais do produto, que é usado predominantemente como fertilizante. No início da década os Estados Unidos eram praticamente auto-suficientes em uréia.
"A idéia de que produzir etanol modificará a dependência norte-americana de fontes externas de energia é falsa, já que os Estados Unidos ainda precisarão importar nitrogênio de outros países, visto que não são capazes de produzirem esse produto", critica ele.
Acredita-se que o aumento de área plantada com milho ocorrerá em detrimento da soja. A soja não necessita de fertilizantes à base de nitrogênio.
Com a expectativa de que os Estados Unidos aumentem a área plantada com milho ainda mais nos próximos anos a fim de elevar as reservas de etanol destinado ao consumo doméstico, o país poderá se tornar ainda mais dependente dos suprimentos de fertilizantes estrangeiros à base de nitrogênio. Os Estados Unidos não pretendem reabrir as fábricas que foram fechadas no início da década.
Tradução: UOL
Fonte: Financial Times
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