março 16, 2009

Ecologia econômica

16/3/2009

Por Thiago Romero

Agência FAPESP – “Economia e ecologia são duas áreas que nunca estiveram tão próximas como nos dias atuais. Apesar da crise nos mercados financeiros, países de todo o mundo jamais observaram um crescimento econômico tão grande como nos últimos 20 anos, acompanhado por um aumento dramático da população mundial, que chegou a mais de 6 bilhões de pessoas.”

As palavras do secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente da Alemanha, Matthias Machnig, ditas durante o Congresso Ecogerma 2009, na semana passada, refletiram a urgência atribuída por cientistas, gestores públicos e empresários à busca de tecnologias e soluções sustentáveis para a redução dos efeitos das mudanças climáticas no mundo.

O evento, que ocorreu em São Paulo, foi promovido pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha. Segundo Machnig, os problemas do mundo contemporâneo convergem para o fato de que a maior parte da população vive em sociedades industrializadas, consumindo altas quantidades de energia de diferentes fontes e esgotando os recursos do solo usado para a produção de alimentos.

“Tudo indica que, depois que a crise passar, o crescimento populacional e econômico mundial continuará. Isso nos faz concluir que a ecologia será a economia do século 21. As tecnologias verdes serão um dos maiores impulsionadores da recuperação econômica dos próximos anos”, disse na conferência Greening the economy: inovação como chave para o desenvolvimento sustentável.

Nesse cenário, Machnig estima que os serviços ecológicos estarão cada vez mais próximos da economia. As emissões anuais de dióxido de carbono, segundo citou, chegaram ao patamar dos 28 bilhões de toneladas e estimativas indicam que, em 2050, serão pelo menos 60 bilhões de toneladas emitidas na atmosfera.

“Uma das metas necessárias para a estabilização climática é a redução de 50% das emissões globais até 2050, mesmo sabendo que até lá a população mundial será maior e, provavelmente, teremos mais indústrias. Por isso, também estamos convencido de que a única saída para atingir as metas ambientais é o início de uma terceira revolução industrial, que garanta a redução drástica do consumo energético nos próximos anos”, disse.

Para Machnig, essa terceira revolução industrial deveria ser subsidiada, em um primeiro momento, pelo investimento maciço em novas tecnologias para redução das emissões de gases poluentes, acompanhada pela aceleração dos esforços mundiais em pesquisa e desenvolvimento para a identificação de inovações na área.

“Dispositivos inteligentes em veículos e edificações, por exemplo, devem não apenas consumir menos energia em curto prazo como também promover a redução das emissões dos gases. As empresas precisam aumentar a competitividade sendo mais amigáveis com o meio ambiente”, alertou.

“Mas essa terceira revolução industrial também só será viável se as empresas conseguirem garantir os empregos, sem deixar de transformar as soluções na área energética em novos problemas sociais. Sairão na frente as empresas que conseguirem ver oportunidades de negócio nessas mudanças de paradigmas ambientais, econômicos e de emprego”, indicou.

outubro 07, 2008

Desinfetantes deixam bactérias mais fortes

6/10/2008

Agência FAPESP – Produtos químicos usados para matar bactérias podem estar fazendo o contrário, deixando os microrganismos ainda mais resistentes. A afirmação é de um estudo publicado na edição de outubro da revista Microbiology.

Segundo a pesquisa, pequenos níveis dessas substâncias, chamadas biocidas, podem fazer com que a potencialmente letal bactéria Staphylococcus aureus se torne mais resistente à ação de antibióticos.

Biocidas são usados em desinfetantes e antissépticos para eliminar micróbios. São comumente empregados na limpeza doméstica, em hospitais, na esterilização de equipamentos médicos e na descontaminação da pele antes de cirurgias.

A pesquisa destaca que se tais produtos forem usados em níveis corretos eles matam bactérias e outros microrganismos. Entretanto, se níveis inferiores aos indicados forem utilizados, os micróbios podem sobreviver, tornando-se resistentes à aplicação.

“Bactérias como o Staphylococcus aureus produzem proteínas capazes de retirar substâncias químicas tóxicas da célula, de modo a interferir com seus efeitos antibactericidas. É um processo que remove antibióticos da célula e torna as bactérias mais resistentes a essas substâncias”, disse Glenn Kaatz, do Centro Médico do Departamento de Assuntos de Veteranos nos Estados Unidos.

Os pesquisadores expuseram amostras de S. aureus retiradas do sangue de pacientes a baixas concentrações de diversos biocidas usados freqüentemente em hospitais. Ao analisar o efeito da exposição, identificaram a produção de mutantes das bactérias com a chamada bomba de efluxo mais desenvolvida, ou seja, com maior fluxo de remoção de toxinas do que o normal.

Segundo eles, se bactérias que vivem em ambientes protegidos são expostas repetidamente a biocidas, por exemplo, durante a atividade de limpeza, elas podem desenvolver resistência a desinfetantes ou, em outros casos, a antibióticos. Estudos anteriores apontaram que tais bactérias contribuem para infecções hospitalares.

“Estamos tentando desenvolver inibidores de bombas de efluxo. Inibidores eficientes poderão reduzir a probabilidade da emergência de novos mecanismos de resistência nas bactérias. Infelizmente os métodos atuais não funcionam eficientemente com uma ampla gama de patógenos, o que não os torna ideais para prevenir a resistência”, disse Kaatz.

“Uma boa alternativa no futuro será a combinação de um inibidor de bomba de efluxo com um agente antimicrobiano, o que reduzirá a emergência de linhagens resistentes e seu impacto clínico”, apontou.

O pesquisador destaca a importância do uso cuidadoso e adequado tanto de antibióticos como de biocidas que ainda não são reconhecidos pelas bombas de efluxo produzidas pelas bactérias.

O artigo Multidrug efflux pump overexpression in Staphylococcus aureus after single and multiple in vitro exposures to biocides and dyes, de Glenn Kaatz e outros, pode ser lido por assinantes da Microbiology em http://mic.sgmjournals.org.

maio 12, 2008

No mundo, a era da comida barata ficou para trás, dizem especialistas

Maio 12, 2008

Aumento de custos como o de fertilizantes impede a queda nos preços

O brasileiro já sente no bolso os efeitos da crise global dos alimentos: aqui e no resto do mundo, a era da comida barata ficou para trás. Os preços de alimentos como arroz, feijão, carne e óleo de soja recuperaram a alta, após mais de uma década de estabilidade no Brasil. E, segundo especialistas, tratase de um caminho sem volta.

Por Fabiana Ribeiro e Luciana Rodrigues, do O Globo, 11/05/2008.

Ou seja: o consumidor terá de se acostumar - e se adaptar - a um novo patamar de preços.

- Há produtos que não sofriam aumentos há 15 anos.

Frango a R$ 1 vai ficar na memória do brasileiro - disse José de Sousa, presidente da Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio. O presidente da Associação dos Supermercados do Estado do Rio (Asserj), Aylton Fornari, lembra que o consumo interno de alimentos está muito próximo da produção. Caso do feijão: serão 3,4 milhões de toneladas em 2008, segundo o IBGE - quase o mesmo volume consumido pelos brasileiros.

- O encarecimento começou com algumas commodities, num claro reflexo de uma economia globalizada. Mas esse movimento se ampliou entre os alimentos - disse Fornari, acrescentando que as expectativas são positivas para as próximas safras de grãos, o que pode ajudar a controlar os preços nos próximos meses.

Nos últimos dois anos, os preços dos alimentos em dólar subiram 60% no mercado mundial, lembra Geraldo Barros, da Esalq/USP. Ele destaca que o Brasil sofreu bem menos porque, nesse mesmo período, o dólar caiu 18% frente ao real.

Fertilizantes subiram até 100% em dólar Mesmo que o Brasil amplie o plantio, não haverá espaço para queda significativa de preços, aqui e no mundo, porque os custos de produção aumentaram muito, afirma Anderson Gomes, da consultoria Céleres. Os fertilizantes, em alguns casos, subiram 100% em dólar no mercado brasileiro. É conseqüência direta da alta do petróleo: a produção desses insumos é muito intensiva em energia, explica Gomes. E uma ampliação na oferta de fertilizantes não significaria queda nos preços: - Fertilizantes são recursos minerais, escassos. Quanto mais se usa, mais caro fica o custo de produção, porque é preciso ir mais fundo nas minas. Na cadeia de defensivos químicos, quando o petróleo sobe, o impacto é imediato - diz Galvão.

Mauro Lopes, da FGV, lembra que toda a cadeia agrícola está cada vez mais associada ao preço do petróleo. Ele ressalta que a agricultura brasileira roda a diesel: - E quem paga a conta acaba sendo o consumidor. Há, sem dúvida, um clima de pânico. Nos EUA, as donas de casa estocam arroz, mesmo num país onde arroz não é muito consumido.

Lopes pondera, no entanto, que os preços brasileiros não estão nos níveis europeus: - Na França, cortes nobres como faux filet, entrecôte e rumsteck custam 21,95 euros o quilo. O quilo do carro Audi A3 vale bem menos do que isso.

Barros, da USP, explica que houve uma mudança de preços relativos, e os consumidores terão que se habituar a gastar mais com alimentos e menos com outros bens.

Consumidor muda hábitos para lidar com preços altos Segundo Mauro Andreazzi, gerente de pesquisas agrícolas do IBGE, o comportamento recente dos preços no Brasil reflete o desconforto em relação a oferta e demanda no país. Ele cita o arroz, cuja produção está abaixo do consumo.

- No momento, os estoques mundiais estão baixos. Mas o cenário pode melhorar: o preço mais alto estimula o aumento de produção e, em seguida, preços melhores para o consumidor.

Arroz, óleo de soja e carne encareceram a lista de compras da artesã Maria da Graça Matias, que gasta cerca de R$ 200 em alimentos por mês. A nova era provocou novos hábitos.

- Antigamente eu comprava pensando também na qualidade. Tenho usado muito macarrão para não ficar só no arroz. Mas está tudo tão caro que até substituir fica difícil. Tenho trocado carne por salsicha, para não gastar muito.

Diante de preços salgados, os especialistas não recomendam fazer estoques em casa. O consumidor pode fazer substituições - como trocar o arroz pela batata - ou mesmo reduzir o consumo de alguns itens.

Mesa mais cara

PRODUÇÃO E CONSUMO NO BRASIL

AUMENTO DOS CUSTOS

Entre abril de 2007 e abril de 2008

A agricultura depende muito de diesel. Para produzir uma safra com 1 tonelada, são consumidos 300 litros de diesel. Além disso, a produção de fertilizantes é intensiva em energia e, por isso, sobe proporcionalmente à alta do petróleo

Entre 2002 e 2008

Uma colheitadeira, que custava 5 mil sacas de soja em 2002, hoje custa mais de 10 mil sacas

Um trator, que custava 1,3 mil sacas de soja, hoje custa mais de 3 mil sacas

ESTOQUES MUNDIAIS BAIXOS

O mundo tem apenas 13% do consumo em estoque Apenas 19% do consumo de soja Apenas 16% do consumo de trigo

abril 30, 2008

A era dos biocombustíveis

30/04/2008

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Com a era dos combustíveis fósseis chegando ao fim, o nível atual de conhecimentos biológicos pode levar à construção de uma “biocivilização moderna de alta produtividade”, na qual o Brasil pode se tornar um ator da primeira importância, de acordo com o economista Ignacy Sachs, professor emérito da École des Hautes Études en Sciences Sociales (Paris).

Mas, segundo ele, nada disso acontecerá sem determinadas políticas públicas que sejam capazes de construir sistemas integrados de produção de alimentos e energia com base na agricultura familiar.

Sachs apresentou uma palestra, na última segunda-feira (28/4), na segunda sessão do ciclo Impactos socioambientais dos biocombustíveis, realizado na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (USP).

O professor, naturalizado francês, nasceu na Polônia e se formou em economia no Rio de Janeiro, onde sua família se refugiou durante a Segunda Guerra Mundial. O evento foi promovido pelo Núcleo de Economia Socioambiental (Nesa) e pelo Núcleo de Estudos Regionais e Urbanos (Nereus), ambos da USP.

De acordo com Sachs, o debate sobre os biocombustíveis se insere numa discussão mais ampla a respeito daquilo que ele define como “a biocivilização moderna”.

“A biomassa pode ser alimento, ração animal, adubo verde e material de construção, além de ser matéria-prima para fármacos, cosméticos e para a química verde, que produzirá um leque cada vez maior de produtos. O conceito de biorrefinaria irá se firmar à imagem do que representou a refinaria de petróleo”, disse Sachs.

Sachs defende a produção de biocombustíveis privilegiando o uso de áreas desmatadas e, no caso brasileiro, principalmente das pastagens degradadas. “Temos que parar de raciocinar por justaposição de cadeias de produção, imaginando separação total de áreas para etanol, biodesel, grãos e gado. Temos que pensar mais seriamente em sistemas integrados de produção de alimentos e energia”, afirmou.

De acordo com Sachs, no entanto, para que essa biocivilização seja construída, as políticas públicas precisarão ser reorientadas de uma forma que permita solucionar, ao mesmo tempo, os problemas sociais e ambientais.

“O desafio que se coloca é atacar simultaneamente o problema ambiental e o problema do déficit crônico de oportunidades de trabalho decente e as desigualdades sociais. Se não partirmos para um ciclo de desenvolvimento com base na agricultura familiar, o que teremos não será essa biocivilização, mas uma produção de agroenergia amplamente mecanizada e favelas apinhadas de ex-agricultores”, declarou.


Políticas públicas necessárias

As políticas públicas necessárias, segundo Sachs, incluem cinco instrumentos principais: a implantação de um zoneamento ecológico-econômico, as certificações sociais e ambientais, a intensa pesquisa científica, a discriminação positiva do agricultor familiar e, por último, a reorganização dos mercados internacionais.

“A questão do zoneamento ecológico-econômico, necessário nas diferentes áreas de produção do país, liga-se ao reordenamento da estrutura fundiária e ao combate à informalidade e à ilegalidade que predominam”, afirmou.

Sachs observa que a certificação socioambiental, que, segundo ele deve, ser exigida também para o mercado interno, tem um obstáculo nos custos, já que os pequenos produtores não podem arcar com esses mecanismos. “Teremos que discutir até que ponto o Estado poderá co-financiar esse produtor”, disse.

A pesquisa científica, segundo o economista, deve se concentrar numa questão crucial: até onde se pode avançar no aproveitamento da energia solar pela fotossíntese. “É fundamental que o Brasil tenha uma posição bem documentada sobre seu potencial fotossintético. É preciso também investigar de forma mais sistemática os potenciais da biodiversidade e estudar sistemas integrados de produção alimentar e energética adaptados aos diferentes biomas”, disse.

A política de discriminação positiva do agricultor familiar, segundo Sachs, consiste num feixe de políticas públicas que abrangem desde educação e assistência técnica permanente, até linhas de crédito específicas e acesso aos mercados. “Seria preciso também desenvolver de uma vez por todas a idéia de reorganizar os mercados internacionais conectando as produções dos países em desenvolvimento”, afirmou.

Para o economista, a produção de biocombustíveis não terá impacto no acesso aos alimentos. “Não discuto o fato de que, com o encarecimento dos alimentos, a situação dos mais pobres vai ficar mais difícil. Mas é risível atribuir o problema da fome à insuficiência de oferta. Sabemos que o problema não é esse e sim a falta de poder aquisitivo. Os biocombustíveis não são o vilão. Ao contrário, poderiam ser um instrumento essencial para tirar os países da insegurança alimentar e energética”, disse.

Não se pode, no entanto, pensar que o problema da energia enfrentado pelo planeta possa ser resolvido com a simples substituição de combustíveis, segundo Sachs. “Temos que colocar em primeiro plano o tema da mudança de paradigma energético: outro perfil de demanda energética, que nos remeterá a um debate complexo e decisivo sobre estilos de vida e de desenvolvimento”, afirmou.

abril 29, 2008

A estória das coisas

abril 12, 2008

A crise financeira é pouco diante da crise alimentar mundial

Os altos preços dos alimentos, a escassez e a especulação estão provocando duros conflitos políticos. E tudo indica que estamos na presença de um fenômeno global, grave e sem precedentes, escreve Moisés Naím em artigo publicado no El País, 06-04-2008. A tradução é do Cepat.

O preço internacional do arroz disparou. Num único dia subiu 10%; nas últimas duas semanas, 50%. Nem sequer em épocas de guerra foi tão caro. Basta recordar que o arroz é parte fundamental da dieta diária de três milhões de pessoas para que os problemas do setor financeiro ou do imobiliário pareçam uma distração menor.

Os preços do arroz subiram porque tanto os países produtores como os consumidores entraram em pânico. Diante de um possível desabastecimento, os países importadores de arroz aumentaram drasticamente suas compras. E os países produtores, preocupados com a possibilidade de deixar sua população sem arroz, limitaram suas exportações. A combinação de compras nervosas e a monopolização preventiva levou os preços à estratosfera.

E não é só o arroz; é o preço dos alimentos em geral. O problema afeta a todos, mas infelizmente, e como sempre, mais os pobres. No Egito, há desabastecimento de pão. Os preços internacionais do trigo duplicaram no último ano e os controles de preços e subsídios governamentais fazem com que o pão subsidiado, em vez de chegar aos pobres, seja vendido mais caro no mercado negro. Ao menos seis pessoas foram mortas asfixiadas pela multidão ou apunhaladas ao tentarem furar as filas para o pão.

A fome generalizada está voltando a fazer parte da vida de milhões de africanos. Mas agora, em vez de afetar as populações rurais e isoladas, está acontecendo nas cidades. Na Argentina, onde a carne é tão importante quanto o pão no Egito ou o arroz na Ásia, há falta de bife. Em todas as partes os altos custos dos alimentos, a escassez, a monopolização e a especulação estão ocasionando duros conflitos políticos, conflitos entre produtores e consumidores, entre o campo e as cidades e entre países exportadores e importadores. A classe média dos países ricos também se vê afetada.

Evidentemente, estamos na presença de um fenômeno global, grave e sem precedentes.

A fome é uma experiência muito antiga. As fomes aparecem na narrativa de todas as religiões. Mas a atual precariedade do sistema alimentar mundial tem causas muito modernas que incluem tanto grandes sucessos governamentais como importantes fracassos; avanços científicos milagrosos e estancamento tecnológico, o uso do mercado para solucionar problemas e a incapacidade para intervir adequadamente quando este falha.

Uma parte do recente aumento dos preços dos alimentos se deve a um fabuloso e recente triunfo da humanidade: mais pessoas do que nunca podem comer três vezes ao dia. Brasil, Vietnã, Turquia, China e Índia são apenas alguns dos países onde milhões de pessoas hoje comem mais e melhor. As revoluções científicas aumentaram a produtividade agrícola e provavelmente voltarão a fazê-lo outra vez. Se a produção de alimentos aumentou muitíssimo, não foi tão rapidamente quanto o consumo; daí os aumentos dos preços.

Mas, há outros fatores que inibem o crescimento da produção. Um fator novo é a mudança climática. A produção de arroz na Ásia se viu afetada por um padrão irregular de secas e chuvas torrenciais. Em outros países, os ciclos de colheita estão se encurtando e as mudanças de temperatura dão origem a novas pragas. O alto preço do petróleo colocou na moda os biocombustíveis. Para os agricultores, agora se torna mais lucrativo produzir milho para encher os tanques dos carros do que para encher estômagos. O aumento do preço do milho estimula a demanda e os preços de outros cereais. E produz manifestações de rua no México.

Mas o que mais determina a produção mundial de alimentos são as políticas governamentais. E estas políticas favorecem os produtores, enquanto seus custos repercutem nos consumidores. Em todos os países, o lobby agrícola está melhor organizado, tem mais dinheiro e é politicamente mais influente que os consumidores de alimentos que, paradoxalmente, somos todos nós. Isto explica o surrealista e ineficiente emaranhado de tarifas, subsídios, controles, estímulos e regras que molda e corrompe a atividade agrícola e o comércio mundial de alimentos.

A boa notícia é que a crise alimentar mundial torna cada vez mais onerosas e insustentáveis muitas das distorções e obstáculos que existem atualmente.

(www.ecodebate.com.br) publicado pelo IHU On-line, 10/04/2008 [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

abril 08, 2008

Estudo revela complexidade do trabalho na agricultura orgânica

Via Ecodebate: Agricultura orgânica vem crescendo e ganhando mercado no Brasil e já é praticada em mais de 120 países. Aqui, chegam a 15 mil os produtores, com 90% das unidades de produção do tipo familiar e 10% do tipo empresarial. Prosperam no mesmo ritmo os estudos sobre a agricultura orgânica focando seus aspectos ecológicos, econômicos e sociais, elegendo-a como alternativa para o desenvolvimento sustentável. Entretanto, ainda são escassas as informações referentes, propriamente, ao trabalho deste agricultor. Por Luiz Sugimoto, do Jornal da UNICAMP.

Gestores sugerem pesquisas à academia

Sandra Francisca Bezerra Gemma, enfermeira do trabalho especializada em ergonomia, está entre os primeiros pesquisadores a olhar a agricultura orgânica pelo viés de quem a pratica. Complexidade e agricultura: organização e análise ergonômica do trabalho na agricultura orgânica é o título da tese de doutorado que ela apresentou na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp, com a orientação do professor Mauro José Andrade Tereso e co-orientação do professor Roberto Funes Abrahão.

Em sua pesquisa de mestrado, a autora já havia destacado a predominância das tarefas manuais neste segmento agrícola, devido principalmente à eliminação do uso de agrotóxicos. Agora, no doutorado, ela acompanhou a intensa atividade dos gestores de unidades de produção em municípios da região de Campinas. “Tendo atuado por vários anos na indústria e no setor de serviços, conhecer a agricultura a partir da ótica dos agricultores foi um desafio extremamente interessante”.

A tese discorre sobre a complexidade do trabalho na agricultura orgânica, por incorporar preceitos ecológicos, econômicos e sociais de sustentabilidade. “Muitos autores afirmam que questões ecológicas e econômicas são conflitantes na maior parte das vezes. Mas é o gestor quem precisa traduzir esses preceitos em práticas agrícolas, zelando para que a unidade de produção seja viável economicamente, sustentável ecologicamente e, além de tudo, justa socialmente”.

Num levantamento em dez propriedades, Sandra Gemma registrou a média de 39 itens de produção, sendo que algumas superam os 80 itens. “Trata-se de um macro sistema a ser gerenciado, pois boa parte das unidades tem associada a produção animal (ovos, leite, mel) e processa produtos como geléias, compotas, polpas de frutas, queijos, manteiga, iogurte. Cerca de 40% delas ainda mantêm um segmento de serviços, com turismo rural, recepção a estudantes, cursos e eventos ligados a agricultura orgânica”.

A capacidade de cada trabalhador em cultivar dezenas de espécies, artesanalmente, impressionou a enfermeira desde o mestrado. Ela também ouviu as queixas, sobretudo em relação a tarefas manuais, movimentos repetitivos, posições incômodas, dores nas costas, exposição a intempéries. “São problemas comuns no trabalho agrícola, mas que podem se agravar ou se tornar mais freqüentes na agricultura orgânica”.

As ervas daninhas da horta, por exemplo, na agricultura convencional são eliminadas com herbicidas. Na agricultura orgânica, elas são arrancadas manualmente. “Outra atividade repetitiva e desgastante é o ensacamento de frutas no pé, como da goiaba, embrulhada uma a uma para protegê-la de doenças e pragas. Muitas vezes, esse trabalho é feito em cima de escada e em terreno inclinado, com os braços esticados acima da cabeça”.

Saber tácito – Na estrutura predominantemente familiar (quando há empregados, são poucos) destaca-se a figura do gestor, objeto central do estudo de Sandra Gemma. “Ele deve ter um olhar clínico sobre o agroecossistema (terra, clima, água, policultivos, animais) e suas interações. É um conhecimento chamado de saber tácito, desenvolvido no cotidiano do trabalho. Se na agricultura convencional existe um receituário pronto, na orgânica cada unidade deve ser vista e cuidada como um ser vivo”.

Ao gestor cabe tomar uma série de decisões relacionadas com os múltiplos cultivos, desde o preparo do solo e o plantio, passando pelos tratos culturais, a colheita, até o beneficiamento pós-colheita. “Ele se responsabiliza por tarefas de produção e ainda se incumbe de toda a parte administrativa, planejando e coordenando as diversas atividades, contratando pessoal e gerindo as finanças e o patrimônio familiar”.

Além de planejar e executar a produção, o gestor tem de vendê-la, o que é mais um elemento de complexidade em seu trabalho. “A maior parte dos gestores mantém vários clientes: o consumidor da feira, as redes de supermercados, os lojistas e aqueles que compram pela Internet, entre outros. Um dos entrevistados possui mais de cem clientes de naturezas diversas”.

A pesquisadora lembra que os produtos da agricultura orgânica devem ser certificados para comercialização, o que leva o gestor a cuidar do atendimento à prescrição das certificadoras, cujas normas equivalem, grosso modo, aos de programas ISO para empresas. “Além da certificação, ele deve lidar também com a legislação ambiental, pois outra tarefa importante é a de reflorestamento e recuperação da mata ciliar”.

Complexidade – Sandra Gemma limitou a primeira parte da pesquisa a duas unidades de produção, em Itu e Jarinu, simplesmente por que outros gestores não puderam recebê-la devido à carga de trabalho. Ainda assim, por dez meses, teve de recorrer mais à observação direta do que a entrevistas com os dois produtores, até reunir conhecimentos para elaborar um questionário destinado a outros proprietários, em Santo Antonio de Posse, Jaguariúna, Paulínia, Valinhos, Serra Negra e Indaiatuba.

“O trabalho do gestor é vital para a produção orgânica, já que tudo é arquitetado por ele. Mesmo que para o observador seja difícil saber tudo o que contém a ‘caixa preta’, procuramos ver o que ele faz, por que faz, como faz e, principalmente, quais são as estratégias que desenvolve para superar as dificuldades”, explica a pesquisadora.

Daí, a tese de doutorado estar fundamentada na Teoria da Complexidade, de Edgar Morin, segundo a qual a organização vai sendo construída constantemente, através da ordem, da desordem e da interação. A cada dia surgem novos desafios, que exigem capacidade de improvisação. “É exatamente o que vimos: o agricultor lidando com uma diversidade enorme de cultivos, em ambiente de pouca tecnologia e conhecimento”.

A grande demanda por pesquisas na agricultura orgânica, conforme ressalta a autora, é um desafio para a academia. “Os produtores pedem o desenvolvimento de variedades de plantas adaptadas para manejo orgânico, técnicas de controle de pragas e doenças (em plantas e animais), estudos que favoreçam a logística de comercialização e um herbicida orgânico para que não precisem arrancar ervas daninhas com as mãos”.

Sem estresse – A saúde física e mental demonstrada pelos produtores, apesar do trabalho excessivo e das dificuldades para sustentar a atividade, é um tema que mereceria outra tese, na opinião de Sandra Gemma. “Afora algumas queixas de dores, não encontrei ninguém incapacitado ou com problemas crônicos. Poderíamos tentar descobrir por que, havendo tanto risco, essas pessoas adoecem tão pouco”.

A multiplicidade de tarefas e a possibilidade de gerenciar o próprio tempo, pausando o trabalho quando há dor ou cansaço, são fatores que contribuem para evitar a sobrecarga. No entanto, a impressão da pesquisadora é de que a força maior vem do significado que eles atribuem ao próprio trabalho.

“Os produtores encaram os seus desafios como nobres, têm orgulho do que fazem. Sentem-se comprometidos com o meio ambiente e a saúde das pessoas. Acho que a ergonomia pode contribuir para aprimorar a produção orgânica, na tentativa de que ela também carregue em si as bases para um trabalho humano mais sustentável na agricultura”, finaliza.

Alguns dados no Brasil e no mundo

Os países com as maiores áreas cultivadas organicamente são a Austrália (11,8 milhões de hectares), Argentina (3,1 milhões), China (2,3 milhões) e EUA (1,6 milhão).

O Brasil vem na 6ª posição mundial, com 842 mil hectares (o triplo da área ocupada em 2001), e a 2ª posição na América Latina, atrás da Argentina.

Os países com maior número de produtores são México (83.174), Itália (44.733), Uganda (40.000), Sri Lanka (35.000) e Filipinas (34.990); o Brasil ocupa a 14ª posição (15.000).

O Brasil evoluiu de 50.000 hectares sob manejo orgânico com produção certificada em 2000, para 841.769 hectares em 2004, o que representa um crescimento de 1.583%.

As grandes unidades brasileiras (com mais de 100 hectares) se destacam na produção de frutas (manga e uva), além de cana-de-açúcar, café, soja e milho.

Atualmente, começa a despontar a pecuária orgânica em áreas extensivas. No país, o total de bovinos que estão em conversão para o manejo orgânico chega a 600.000 animais.

Pesquisa mundial aponta para cerca de 31 milhões de hectares cultivados organicamente, por 634 mil agricultores, sendo que a Oceania detém 39% da área agrícola, seguida pela Europa com 23% e América Latina com 19%

março 14, 2008

10 Reasons Why Organic Can Feed the World

Ed Hamer and Mark Anslow
The Ecologist, March 2008

Can organic farming feed the world? Ed Hamer and Mark Anslow say yes, but we must farm and eat differently

1. Yield

Switching to organic farming would have different effects according to where in the world you live and how you currently farm. Studies show that the less industrialised world stands to benefit the most. In southern Brazil, maize and wheat yields doubled on farms that changed to green manures and nitrogen fixing leguminous vegetables instead of chemical fertilisers. In Mexico, coffee-growers who chose to move to fully organic production methods saw increases of 50 per cent in the weight of beans they harvested. In fact, in an analysis of more than 286 organic conversions in 57 countries, the average yield increase was found to be an impressive 64 per cent.

The situation is more complex in the industrialised world, where farms are large, intensive facilities, and opinions are divided on how organic yields would compare. Research by the University of Essex in 1999 found that, although yields on US farms that converted to organic initially dropped by between 10 and 15 per cent, they soon recovered, and the farms became more productive than their all-chemical counterparts. In the UK, however, a study by the Elm Farm Research Centre predicted that a national transition to all-organic farming would see cereal, rapeseed and sugar beet yields fall by between 30 and 60 per cent. Even the Soil Association admits that, on average in the UK, organic yields are 30 per cent lower than non-organic.

So can we hope to feed ourselves organically in the British Isles and Northern Europe? An analysis by former Ecologist editor Simon Fairlie in The Land journal suggests that we can, but only if we are prepared to rethink our diet and farming practices. In Fairlie's scenario, each of the UK's 60 million citizens could have organic cereals, potatoes, sugar, vegetables and fruit, fish, pork, chicken and beef, as well as wool and flax for clothes and biomass crops for heating. To achieve this we'd each have to cut down to around 230g of beef (1/2lb), compared to an average of 630g (11/2lb) today, 252g of pork/bacon, 210g of chicken and just under 4kg (9lb) of dairy produce each week - considerably more than the country enjoyed in 1945. We would probably need to supplement our diet with homegrown vegetables, save our food scraps as livestock feed and reform the sewage system to use our waste as an organic fertiliser.

2. Energy

Currently, we use around 10 calories of fossil energy to produce one calorie of food energy. In a fuel-scarce future, which experts think could arrive as early as 2012, such numbers simply won't stack up. Studies by the Department for Environment, Food and Rural affairs over the past three years have shown that, on average, organically grown crops use 25 per cent less energy than their chemical cousins. Certain crops achieve even better reductions, including organic leeks (58 per cent less energy) and broccoli (49 per cent less energy).

When these savings are combined with stringent energy conservation and local distribution and consumption (such as organic box schemes), energy-use dwindles to a fraction of that needed for an intensive, centralised food system. A study by the University of Surrey shows that food from Tolhurst Organic Produce, a smallholding in Berkshire, which supplies 400 households with vegetable boxes, uses 90 per cent less energy than if non-organic produce had been delivered and bought in a supermarket.

Far from being simply 'energy-lite', however, organic farms have the potential to become self-sufficient in energy - or even to become energy exporters. The 'Dream Farm' model, first proposed by Mauritius-born agroscientist George Chan, sees farms feeding manure and waste from livestock and crops into biodigesters, which convert it into a methane-rich gas to be used for creating heat and electricity. The residue from these biodigesters is a crumbly, nutrient-rich fertiliser, which can be spread on soil to increase crop yields or further digested by algae and used as a fish or animal feed.

3. Greenhouse gas emissions and climate change

Despite organic farming's low-energy methods, it is not in reducing demand for power that the techniques stand to make the biggest savings in greenhouse gas emissions. The production of ammonium nitrate fertiliser, which is indispensable to conventional farming, produces vast quantities of nitrous oxide - a greenhouse gas with a global warming potential some 320 times greater than that of CO2. In fact, the production of one tonne of ammonium nitrate creates 6.7 tonnes of greenhouse gases (CO2e), and was responsible for around 10 per cent of all industrial greenhouse gas emissions in Europe in 2003.

The techniques used in organic agriculture to enhance soil fertility in turn encourage crops to develop deeper roots, which increase the amount of organic matter in the soil, locking up carbon underground and keeping it out of the atmosphere. The opposite happens in conventional farming: high quantities of artificially supplied nutrients encourage quick growth and shallow roots. A study published in 1995 in the journal Ecological Applications found that levels of carbon in the soils of organic farms in California were as much as 28 per cent higher as a result. And research by the Rodale Institute shows that if the US were to convert all its corn and soybean fields to organic methods, the amount of carbon that could be stored in the soil would equal 73 per cent of the country's Kyoto targets for CO2 reduction.

Organic farming might also go some way towards salvaging the reputation of the cow, demonised in 2007 as a major source of methane at both ends of its digestive tract. There's no doubt that this is a problem: estimates put global methane emissions from ruminant livestock at around 80 million tonnes a year, equivalent to around two billion tonnes of CO2, or close to the annual CO2 output of Russia and the UK combined. But by changing the pasturage on which animals graze to legumes such as clover or birdsfoot trefoil (often grown anyway by organic farmers to improve soil nitrogen content), scientists at the Institute of Grassland and Environmental Research believe that methane emissions could be cut dramatically. Because the leguminous foliage is more digestible, bacteria in the cow's gut are less able to turn the fodder into methane. Cows also seem naturally to prefer eating birdsfoot trefoil to ordinary grass.

4. Water use

Agriculture is officially the most thirsty industry on the planet, consuming a staggering 72 per cent of all global freshwater at a time when the UN says 80 per cent of our water supplies are being overexploited. This hasn't always been the case. Traditionally, agricultural crops were restricted to those areas best suited to their physiology, with drought-tolerant species grown in the tropics and water-demanding crops in temperate regions. Global trade throughout the second half of the last century led to a worldwide production of grains dominated by a handful of high-yielding cereal crops, notably wheat, maize and rice. These thirsty cereals - the 'big three' - now account for more than half of the world's plant-based calories and 85 per cent of total grain production.

Organic agriculture is different. Due to its emphasis on healthy soil structure, organic farming avoids many of the problems associated with compaction, erosion, salinisation and soil degradation, which are prevalent in intensive systems. Organic manures and green mulches are applied even before the crop is sown, leading to a process known as 'mineralisation' - literally the fixing of minerals in the soil. Mineralised organic matter, conspicuously absent from synthetic fertilisers, is one of the essential ingredients required physically and chemically to hold water on the land. Organic management also uses crop rotations, undersowing and mixed cropping to provide the soil with near-continuous cover. By contrast, conventional farm soils may be left uncovered for extended periods prior to sowing, and again following the harvest, leaving essential organic matter fully exposed to erosion by rain, wind and sunlight. In the US, a 25-year Rodale Institute experiment on climatic extremes found that, due to improved soil structure, organic systems consistently achieve higher yields during periods both of drought and flooding.

5. Localisation

The globalisation of our food supply, which gives us Peruvian apples in June and Spanish lettuces in February, has seen our food reduced to a commodity in an increasingly volatile global marketplace. Although year-round availability makes for good marketing in the eyes of the biggest retailers, the costs to the environment are immense. Friends of the Earth estimates that the average meal in the UK travels 1,000 miles from plot to plate. In 2005, Defra released a comprehensive report on food miles in the UK, which valued the direct environmental, social and economic costs of food transport in Britain at £9 billion each year. In addition, food transport accounted for more than 30 billion vehicle kilometres, 25 per cent of all HGV journeys and 19 million tonnes of carbon dioxide emissions in 2002 alone.

The organic movement was born out of a commitment to provide local food for local people, and so it is logical that organic marketing encourages localisation through veg boxes, farm shops and stalls. Between 2005 and 2006, organic sales made through direct marketing outlets such as these increased by 53 per cent, from GBP95 to GBP146 million, more than double the sales growth experienced by the major supermarkets.

As we enter an age of unprecedented food insecurity, it is essential that our consumption reflects not only what is desirable, but also what is ultimately sustainable. While the 'organic' label itself may inevitably be hijacked, 'organic and local' represents a solution with which the global players can simply never compete.

6. Pesticides

It is a shocking testimony to the power of the agrochemical industry that in the 45 years since Rachel Carson published her pesticide warning Silent Spring, the number of commercially available synthetic pesticides has risen from 22 to more than 450.

According to the World Health Organization there are an estimated 20,000 accidental deaths worldwide each year from pesticide exposure and poisoning. More than 31 million kilograms of pesticide were applied to UK crops alone in 2005, 0.5 kilograms for every person in the country. A spiralling dependence on pesticides throughout recent decades has resulted in a catalogue of repercussions, including pest resistance, disease susceptibility, loss of natural biological controls and reduced nutrient-cycling.

Organic farmers, on the other hand, believe that a healthy plant grown in a healthy soil will ultimately be more resistant to pest damage. Organic systems encourage a variety of natural methods to enhance soil and plant health, in turn reducing incidences of pests, weeds and disease.

First and foremost, because organic plants grow comparatively slower than conventional varieties they have thicker cell walls, which provide a tougher natural barrier to pests. Rotations or 'break-crops', which are central to organic production, also provide a physical obstacle to pest and disease lifecycles by removing crops from a given plot for extended periods. Organic systems also rely heavily on a rich agro-ecosystem in which many agricultural pests can be controlled by their natural predators.

Inevitably, however, there are times when pestilence attacks are especially prolonged or virulent, and here permitted pesticides may be used. The use of organic pesticides is heavily regulated and the International Federation of Organic Agriculture Movements (IFOAM) requires specific criteria to be met before pesticide applications can be justified. There are in fact only four active ingredients permitted for use on organic crops: copper fungicides, restricted largely to potatoes and occasionally orchards; sulphur, used to control additional elements of fungal diseases; Retenone, a naturally occurring plant extract, and soft soap, derived from potassium soap and used to control aphids. Herbicides are entirely prohibited.

7. Ecosystem impact

Farmland accounts for 70 per cent of UK land mass, making it the single most influential enterprise affecting our wildlife. Incentives offered for intensification under the Common Agricultural Policy are largely responsible for negative ecosystem impacts over recent years. Since 1962, farmland bird numbers have declined by an average of 30 per cent. During the same period more than 192,000 kilometres of hedgerows have been removed, while 45 per cent of our ancient woodland has been converted to cropland.

By contrast, organic farms actively encourage biodiversity in order to maintain soil fertility and aid natural pest control. Mixed farming systems ensure that a diversity of food and nesting sites are available throughout the year, compared with conventional farms where autumn sow crops leave little winter vegetation available. Organic production systems are designed to respect the balance observed in our natural ecosystems. It is widely accepted that controlling or suppressing one element of wildlife, even if it is a pest, will have unpredictable impacts on the rest of the food chain. Instead, organic producers regard a healthy ecosystem as essential to a healthy farm, rather than a barrier to production.

In 2005, a report by English Nature and the RSPB on the impacts of organic farming on biodiversity reviewed more than 70 independent studies of flora, invertebrates, birds and mammals within organic and conventional farming systems. It concluded that biodiversity is enhanced at every level of the food chain under organic management practices, from soil micro-biota right through to farmland birds and the largest mammals.

8. Nutritional benefits

While an all-organic farming system might mean we'd have to make do with slightly less food than we're used to, research shows that we can rest assured it would be better for us. In 2001, a study in the Journal of Complementary Medicine found that organic crops contained higher levels of 21 essential nutrients than their conventionally grown counterparts, including iron, magnesium, phosphorus and vitamin C. The organic crops also contained lower levels of nitrates, which can be toxic to the body.

Other studies have found significantly higher levels of vitamins - as well as polyphenols and antioxidants - in organic fruit and veg, all of which are thought to play a role in cancer-prevention within the body. Scientists have also been able to work out why organic farming produces more nutritious food. Avoiding chemical fertiliser reduces nitrates levels in the food; betterquality soil increases the availability of trace minerals, and reduced levels of pesticides mean that the plants' own immune systems grow stronger, producing higher levels of antioxidants. Slower rates of growth also mean that organic food frequently contains higher levels of dry mass, meaning that fruit and vegetables are less pumped up with water and so contain more nutrients by weight than intensively grown crops do.

Milk from organically fed cows has been found to contain higher levels of nutrients in six separate studies, including omega-3 fatty acids, vitamin E, and beta-carotene, all of which can help prevent cancer. One experiment discovered that levels of omega-3 in organic milk were on average 68 per cent higher than in non-organic alternatives. But as well as giving us more of what we do need, organic food can help to give us less of what we don't. In 2000, the UN Food and Agriculture Organization (FAO) found that organically produced food had 'lower levels of pesticide and veterinary drug residues' than non-organic did. Although organic farmers are allowed to use antibiotics when absolutely necessary to treat disease, the routine use of the drugs in animal feed - common on intensive livestock farms - is forbidden. This means a shift to organic livestock farming could help tackle problems such as the emergence of antibiotic-resistant bacteria.

9. Seed-saving

Seeds are not simply a source of food; they are living testimony to more than 10,000 years of agricultural domestication. Tragically, however, they are a resource that has suffered unprecedented neglect. The UN FAO estimates that 75 per cent of the genetic diversity of agricultural crops has been lost over the past 100 years.

Traditionally, farming communities have saved seeds year-on-year, both in order to save costs and to trade with their neighbours. As a result, seed varieties evolved in response to local climatic and seasonal conditions, leading to a wide variety of fruiting times, seed size, appearance and flavour. More importantly, this meant a constant updating process for the seed's genetic resistance to changing climatic conditions, new pests and diseases. By contrast, modern intensive agriculture depends on relatively few crops - only about 150 species are cultivated on any significant scale worldwide. This is the inheritance of the Green Revolution, which in the late 1950s perfected varieties Filial 1, or F1 seed technology, which produced hybrid seeds with specifically desirable genetic qualities. These new high-yield seeds were widely adopted, but because the genetic makeup of hybrid F1 seeds becomes diluted following the first harvest, the manufacturers ensured that farmers return for more seed year on year.

With its emphasis on diversity, organic farming is somewhat cushioned from exploitation on this scale, but even Syngenta, the world's third-largest biotech company, now offers organic seed lines. Although seedsaving is not a prerequisite for organic production, the holistic nature of organics lends itself well to conserving seed. In support of this, the Heritage Seed Library, in Warwickshire, is a collection of more than 800 open-pollinated organic varieties, which have been carefully preserved by gardeners across the country. Although their seeds are not yet commercially available, the Library is at the forefront of addressing the alarming erosion of our agricultural diversity.

Seed-saving and the development of local varieties must become a key component of organic farming, giving crops the potential to evolve in response to what could be rapidly changing climatic conditions. This will help agriculture keeps pace with climate change in the field, rather than in the laboratory.

10. Job creation

There is no doubt British farming is currently in crisis. With an average of 37 farmers leaving the land every day, there are now more prisoners behind bars in the UK than there are farmers in the fields. Although it has been slow, the decline in the rural labour force is a predictable consequence of the industrialisation of agriculture. A mere one per cent of the UK workforce is now employed in land-related enterprises, compared with 35 per cent at the turn of the last century.

The implications of this decline are serious. A skilled agricultural workforce will be essential in order to maintain food security in the coming transition towards a new model of post-fossil fuel farming. Many of these skills have already been eroded through mechanisation and a move towards more specialised and intensive production systems. Organic farming is an exception to these trends. By its nature, organic production relies on labour-intensive management practices. Smaller, more diverse farming systems require a level of husbandry that is simply uneconomical at any other scale.

Organic crops and livestock also demand specialist knowledge and regular monitoring in the absence of agrochemical controls. According to a 2006 report by the University of Essex, organic farming in the UK provides 32 per cent more jobs per farm than comparable non-organic farms. Interestingly, the report also concluded that the higher employment observed could not be replicated in non-organic farming through initiatives such as local marketing. Instead, the majority (81 per cent) of total employment on organic farms was created by the organic production system itself. The report estimates that 93,000 new jobs would be created if all farming in the UK were to convert to organic.

Organic farming also accounts for more younger employees than any other sector in the industry. The average age of conventional UK farmers is now 56, yet organic farms increasingly attract a younger more enthusiastic workforce, people who view organics as the future of food production. It is for this next generation of farmers that Organic Futures, a campaign group set up by the Soil Association in 2007, is striving to provide a platform.

Ed Hamer is a freelance journalist
Mark Anslow is the Ecologist's senior reporter

fevereiro 08, 2008

Celulose contribui para o aquecimento global

Reportagem: Agência Chasque por Raquel Casiraghi

Porto Alegre (RS) - Empresas de celulose também são responsáveis pelo
aumento da temperatura do planeta. A afirmação é do ativista norte-americano
Julian Drix, da organização Maré Crescente, que combate o aquecimento
global. Para ele, três argumentos colocam as empresas entre as principais
causadoras do problema ambiental:

"Primeiro, para plantar eucalipto, eles destroem completamente a Mata
Atlântica. Segundo, os agrotóxicos que eles usam. Os agrotóxicos são
baseados em petróleo, que são a maior fonte de aquecimento global. E também
o processo para produzir o papel precisa muita energia e tem muitas emissões
de carbono. Estas grandes indústrias e os latifúndios são a fonte do
aquecimento global", afirma.

De acordo com o norte-americano, estas e outras empresas poluidoras usam o
mercado de crédito de carbono e a propaganda para melhorarem suas imagens,
sem atacarem o verdadeiro problema.

"Grandes empresas de petróleo, de carvão mineral, de outras coisas estão
"lavando" suas imagens, por comprarem créditos de carbono que vem de
plantações daqui ou de outros países do sul. Tem uma coisa nos Estados
Unidos que se chama US CAP, que é um grupo de grandes empresas que dizem que
estão fazendo algum coisa contra o aquecimento global, para buscar
alternativas de energia, mas são as mesmas empresas que são o problema",
declarou.

Entre as empresas que devem utilizar o crédito de carbono como propaganda de
preservação do meio ambiente, o ativista destaca o banco Bradesco, a
multinacional de petróleo Exxon Mobil e as empresas de celulose Aracruz e
Stora Enso. Somente no Rio Grande do Sul, Aracruz e Stora Enso detêm cerca
de 150 mil hectares plantados de pínus e eucalipto.

Julian Drix esteve no Brasil pesquisando para a produção de um filme sobre a
monocultura de eucalipto, produção de celulose e o aquecimento global, que
deverá ser realizado ainda este ano.

Caminhada energética

08/02/2008

Agência FAPESP – Acabou a bateria do celular, do tocador MP3 ou do GPS? Que tal recarregar aparelhos eletrônicos sem precisar voltar para casa, usar uma tomada e esperar? Melhor ainda: que tal fazer isso no meio da rua, enquanto caminha e usa energia gerada pelos próprios movimentos do corpo?

A novidade está descrita na edição desta sexta-feira (8/2) da revista Science. Um grupo de cientistas de laboratórios nos Estados Unidos e Canadá desenvolveu um dispositivo para ser instalado nas pernas e que gera eletricidade enquanto o usuário caminha.

Da mesma forma que os automóveis híbridos acumulam energia dissipada ao pisar nos freios – e a “reciclam” para uso no deslocamento do veículo –, o dispositivo armazena parte da energia cinética dos movimentos das pernas.

Instalados nas duas pernas, os equipamentos geram 5 watts de eletricidade durante caminhadas leves. Energia suficiente para fazer funcionar dez celulares simultaneamente ou os laptops de baixo custo que estão sendo testados em países em desenvolvimento. Ao correr, a energia produzida chegou a 54 watts.

“O fato é que há muita energia disponível em vários locais do corpo humano e que pode ser convertida em eletricidade. O joelho, por exemplo, é um dos melhores pontos”, disse Arthur Kuo, da Universidade de Michigan, um dos autores do estudo.

Os pesquisadores testaram dispositivos em seis voluntários. Cada aparelho era composto por um pequeno motor montado em um chassi de alumínio, com gerador, correias, potenciômetros e conectores. Somados às bandas de borracha para fixar na perna, resultaram em um peso de 1,6 quilo cada um.

“O objetivo era demonstrar o conceito. O protótipo é desajeitado e pesado e afeta o modo de andar, mas esperamos melhorá-lo de modo que seja mais fácil de usar e mais eficiente na geração de energia”, disse Kuo.

Segundo os pesquisadores, além de servir como fonte de eletricidade em locais remotos, a tecnologia tem potencial para ser empregada no funcionamento de próteses robotizadas. Outros usos estariam em bombas de insulina implantadas ou para diminuir o fardo de soldados, que não precisariam carregar pesadas baterias de modo a operar dispositivos eletrônicos cada vez mais comuns em campos de combate.

O artigo Biomechanical energy harvesting: generating electricity during walking with minimal user effort, de J.M. Donelan e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org.

janeiro 14, 2008

Pesquisa identifica desertificação na nascente do rio Araguaia

Por Celira Caparica para ComCiência
09/01/2008

Um trabalho da Universidade Federal de Goiás (UFG) acompanha há mais de uma década o processo de desertificação na parte sul da alta bacia do rio Araguaia, situada entre os estados de Goiás e Mato Grosso, e mostra que o problema vem aumentando. Os principais vilões são a monocultura da soja e a formação de pastos para a criação de gado que extinguem a vegetação nativa.

A geógrafa Rosane Amaral Alves da Silva, especialista em erosão e desertificação de solos do Laboratório de Geologia e Geografia Física (Labogef) participa do projeto e explica como a desertificação está ocorrendo. “Com o tempo essas áreas são abandonadas e, com a remoção da cobertura vegetal, se transformam em areia pura”, diz Silva. O grupo de pesquisa é coordenado pela geógrafa Selma Simões de Castro, também do Labogef, unidade pertencente ao Instituto de Estudos Sócio-Ambientais da UFG. Castro é especialista em estudo de solos e coordenadora geral das pesquisas sobre desertificação no cerrado e no estado de Goiás.

O período focado por Silva em seu estudo na nascente do rio Araguaia coincide com o aumento da produção de soja na região, atividade que, segundo a pesquisadora, pode ajudar a acelerar o aquecimento global. A geógrafa conta que nas fotos aéreas de 1965 e nas imagens de satélite entre 1970 e 1980, não há nenhum areal visível, o que permite afirmar que o processo de desertificação teve início no fim da década de 1980 e se prolongou durante a década de 1990. Porém, imagens de satélite mais recentes de 2000, 2003 e 2005, já mostram areais de até 367 km2 indicando, portanto, processo de desertificação. Para medir a velocidade do fenômeno, as pesquisadoras usaram imagens do CBERS, satélite sino-brasileiro, e do norte-americano Landsat. São feitas também perícias nos locais afetados para dimensionar os problemas ambientais.

As análises das imagens mostram a formação de grandes areais esbranquiçados, de areias soltas, progressivamente estéreis, ou seja, de difícil sobrevivência para as plantas, mesmo das pastagens. As pesquisadoras afirmam que o processo também forma grandes voçorocas (erosões que rasgam a terra até atingirem o nível freático) e logo após vem o assoreamento do rio. A enxurrada e os caminhos subsuperficias das águas infiltradas arrastam a areia solta para dentro dos rios e encostas trazendo graves conseqüências para o meio ambiente. Além disso, a degradação do solo aumenta a área improdutiva, agravando o problema de produção de alimentos.

Silva afirma que para evitar a desertificação seria necessário, além de divulgar as áreas que estão sendo afetadas e as possíveis causas, fazer também um trabalho de conscientização dos agricultores e pecuaristas e incentivar o plantio de vegetação nativa nas áreas arenosas, porque a cobertura vegetal protege o solo contra a erosão e pode contribuir para sua recuperação. “Poucos produtores de soja se preocuparam em fazer a recuperação das áreas danificadas”, diz Silva, “a recuperação dos areais, quando realizada, é feita com replantio de gramíneas, continuando sua destinação para pastagem”.

O impacto da desertificação nas mudanças climáticas do planeta é considerável. Segundo Hama Arba Diallo, ex-secretário-executivo da Convenção Internacional de Luta contra a Desertificação (UNCCD), 4% do total das emissões globais são produzidas em terras secas, como resultado da desertificação e das conseqüentes perdas de vegetação. Isso gera um aumento das emissões de gases causadores do efeito estufa e uma redução da absorção de carbono por falta de vegetação. Esforços de recuperação de terras degradadas através da restauração da vegetação nativa podem ajudar a alcançar rápida e eficazmente resultados combinados para combater a desertificação e o aquecimento global ao mesmo tempo.

De fato, a desertificação não pode ser vista de forma isolada. Em um encontro de cúpula realizado em Lisboa, em dezembro passado, analistas da União Européia admitiram que é preciso usar os progressos de forma unida, para conseguir, ao mesmo tempo, inverter o avanço da desertificação, melhorar as condições micro-climáticas e reduzir a degradação dos solos. Para tanto, segundo o documento feito no encontro, é fundamental, entre outras medidas, “melhorar os conhecimentos em matéria de degradação e desertificação das terras; promover a gestão integrada dos recursos naturais e conservação da diversidade biológica; abordar os problemas da degradação das terras e da aridez crescente de forma a responder às necessidades locais e a tirar partido dos esforços e dos sucessos locais e individuais”.

janeiro 05, 2008

dezembro 28, 2007

Os direitos sobre os créditos de carbono

Waldemar Deccache
28/12/2007 para Valor

O Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) foi instituído com a finalidade de aumentar a participação da energia elétrica produzida por empreendimentos concebidos com base em fontes eólicas, pequenas centrais hidrelétricas e biomassa no sistema interligado nacional. O programa foi criado pelo artigo 3° da Lei n° 10.438, de 26 de abril de 2002, e consistiu na aquisição, pela Eletrobrás, de energia produzida a partir das fontes alternativas de geração, tais como as eólicas e as pequenas centrais hidrelétricas e biomassa, a ser feita em duas etapas. A primeira visou à implantação de 3.300 megawatts de capacidade, para início de funcionamento até 30 de dezembro de 2008, com garantia de compra da energia produzida pelo prazo de 20 anos, a ser distribuída igualmente por cada fonte participante. A segunda etapa previu o aumento da energia produzida a partir das mesmas fontes até atingir 10% do consumo anual de energia no país, a ser alcançado em até 20 anos.


A legislação instituidora do Proinfa não estabeleceu como condição de adesão ao programa a obrigação dos produtores transferirem à Eletrobrás o proveito econômico resultante do mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL), vale dizer, os créditos de carbono provindos de seus empreendimentos. Pelo contrário, além de ter silenciado em relação às aquisições de energia feitas na primeira etapa, com respeito à segunda etapa do programa, ainda não implementada, limitou-se o artigo 4°, inciso II, alínea "e" da Lei nº 10.438 a mencionar que os produtores iriam apresentar à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) um certificado de energia renovável (CER) "para fiscalização e controle das metas anuais". Isto quer dizer que o legislador, quando da edição da lei, estava atento à existência do direito originado na geração de energia limpa pelos empreendimentos alternativos, e ainda assim não estabeleceu, como condição de adesão ao programa, a sua transferência em favor da Eletrobrás.


Não obstante, em 30 de março de 2004 foi editado o Decreto n° 5.025, que, a pretexto de regulamentar a primeira etapa do Proinfa, dispôs, em seu artigo 11, inciso V, que os contratos de compra de energia a serem firmados com a Eletrobrás deveriam conter "cláusula de redução do preço contratado na hipótese de o produtor vir a ser beneficiado com novos incentivos às tecnologias consideradas no Proinfa". Na mesma linha, o artigo 16° do mesmo decreto incluiu entre as receitas da "conta Proinfa", a ser administrada pela Eletrobrás, "eventuais benefícios financeiros provenientes do MDL".


Depois, em 31 de agosto de 2006, foi editado o Decreto nº 5.882, que pretendeu ratificar a apropriação, pela Eletrobrás, dos créditos de carbono de titularidade dos empreendimentos geradores de energia limpa no âmbito do Proinfa, antes feita pelo Decreto nº 5.025, adicionando que cumpriria a Eletrobrás "desenvolver, direta ou indiretamente, os processos de preparação e validação dos documentos de concepção de projeto (DCP), registro, monitoramento e certificação das reduções de emissões, além da comercialização dos créditos de carbono obtidos no Proinfa".



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Somente uma lei poderia impor a obrigação de transferir à Eletrobrás o direito sobre benefícios de crédito de carbono
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No entanto, é evidente que as mencionadas previsões regulamentares carecem de legitimidade, pois somente uma lei em sentido formal, assim entendida aquela emanada do Poder Legislativo, poderia impor aos empreendimentos geradores de energia limpa a obrigação de transferir à Eletrobrás o direito de propriedade sobre os benefícios do MDL ou créditos de carbono à luz do princípio da legalidade inscrito no artigo 5°, inciso II da Constituição Federal. Não poderiam fazê-lo, a toda evidência, os Decretos nº 5.025 e 5.886, sob pretexto de regulamentar a lei, uma vez que estariam invadindo a competência legislativa conferida pelo artigo 2, inciso II da Constituição Federal, incorrendo, assim, no campo da ilegalidade.


É pacífico que o artigo 84, inciso IV da Constituição Federal conferiu ao presidente da República competência para expedir decretos e regulamentos apenas e somente para a fiel execução das leis. Sendo assim, em nosso sistema legal é vedado ao chefe do Poder Executivo, por meio do regulamento, estabelecer, alterar ou extinguir direitos. Neste sentido, ensina Celso Antônio Bandeira de Mello que "onde se estabelecem, alteram ou extinguem direitos, não há regulamentos - há abuso do poder regulamentar, invasão da competência legislativa".


Diante disto, carece de suporte legal a pretensão inserida nos referidos Decretos nº 5.025 e 5.882 de transferir a titularidade dos benefícios oriundos do mecanismo de desenvolvimento limpo ou créditos de carbono dos empreendimentos produtores à Eletrobrás no âmbito do programa Proinfa.


Waldemar Deccache é advogado, sócio do escritório Deccache Advogados e procurador do Estado do Rio de Janeiro


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações

dezembro 21, 2007

Para alguns, luta pelo clima se trata de sobrevivência

20/12/2007
*Tradução:* George El Khouri Andolfato
Do site do International Herald Tribune

Elisabeth Rosenthal

De certa forma, os heróis anônimos das duas semanas da conferência da ONU sobre o aquecimento global em Bali, encerrada no último fim de semana, foram os representantes dos países em desenvolvimento, particularmente aqueles das pequenas ilhas-Estado, que se tornaram os defensores mais fortes da busca para limitação do aquecimento.

Notadamente, foi o representante de Papua Nova Guiné que afastou a principal negociadora americana, Paula Dobriansky, na última sessão no plenário, quando ela ameaçou bloquear um acordo que poderia levar a um novo tratado para o clima.

"Se por algum motivo você não está disposta a liderar, deixe isso por nossa conta", disse o representante, Kevin Conrad. "Por favor, saia do caminho."

De fato, a Aliança dos Pequenos Estados Insulares, ou Aosis, criticou a meta da ONU de limitar o aumento da temperatura a 2ºC, a chamando de "insuficientemente ambiciosa". Durante o ano de negociações que antecedeu a divulgação no mês passado do relatório síntese do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), cientistas e políticos dos países em
desenvolvimento "exerciam um papel muito mais ativo" do que antes, disse Rajendra Pachauri da Índia, o presidente do painel. Eles freqüentemente argumentavam que a ciência fosse declarada nos termos mais absolutos, sem diluição da linguagem, disseram observadores.

Por quê? Imagine o que o aquecimento global representa para países como as Maldivas, Papua Nova Guiné e Granada e você entenderá rapidamente: a mudança climática é uma questão de vida ou morte para eles.

"Mesmo um aumento de 2ºC em comparação aos níveis pré-industriais traria conseqüências devastadoras para os pequenos Estados insulares", disse Maumoon Abdul Gayoom, presidente das Maldivas, aos representantes em Bali.

Primeiro, tais Estados insulares são lugares de baixa altitude cujas cidades freqüentemente são portos. Suas áreas mais populosas -em alguns casos todo seu território- correm o risco de serem engolidas pelo mar.

"Nós já estamos comprometidos com um aumento do nível dos mares em 0,4 a 1,4 metro mesmo se as emissões foram estabilizadas hoje", me disse Pachauri na divulgação do relatório de seu painel. "Isto é muito para alguns lugares."

Um aumento do nível dos mares de 50 centímetros poderia levar ao desaparecimento de 60% das praias de algumas áreas de Granada, segundo um relatório da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima divulgado neste ano. Para as Maldivas, uma elevação de um metro dos mares representaria o desaparecimento completo do país. Outros países em atóis,
como Kiribati, Ilhas Marshall e Tuvalu também correm o risco de serem engolidos pelo mar, já que seus territórios raramente atingem mais de dois metros acima do nível do mar.

Mesmo se não forem completamente inundados, eles provavelmente se tornarão inabitáveis porque suas reservas de água doce interiores serão contaminadas por ondas causadas por tempestade e infiltração da água marinha.

Segundo, muitos Estados insulares são pequenos e pobres, de forma que possuem pouca capacidade de se adaptarem à mudança climática, seja física ou financeiramente.

"Nós temos que fazer tudo o que pudermos agora, porque não queremos que nossos recifes e nossa ilha desapareçam", disse Banuve Kaumaitotoya, ministro do Turismo e Meio Ambiente de Fiji.

Terceiro, os pequenos Estados insulares estão altamente à mercê dos grandes países no jogo climático, já que as emissões que os afogarão vêm de longe.

"Os pequenos Estados insulares contribuem pouco para a concentração de gases do efeito estufa na atmosfera, mas são afetados direta e negativamente pelos impactos da mudança climática", disse o relatório da Aosis. "Os maiores emissores históricos devem agora atuar de forma agressiva para facilitar a redução das emissões globais."

Na conferência em Bali, Gayoom, o presidente das Maldivas, disse que metade da ilha das Maldivas está sofrendo erosão "em um ritmo alarmante". Os recifes de coral que antes protegiam as ilhas estão morrendo devido ao aquecimento, resultando em um aumento de enchentes após tempestades, colocando muitas pessoas "em grave risco".

Com os efeitos do aquecimento global já agudos, tudo o que esses pequenos países podem fazer é participar das conferências e fazer barulho, na esperança de que a comunidade internacional os ouça. Como notou Gayoom, eles não dispõem de dinheiro e nem de tecnologia para se adaptarem. Eles não contam com meios diretos de forçar os Estados Unidos ou a China a reduzirem suas emissões.

E o mundo está ouvindo? Será que os países desenvolvidos estão dispostos a transferir dinheiro e tecnologia para estes pequenos Estados insulares para protegê-los da elevação dos mares, como o Plano de Ação de Bali pediu que considerassem? Mais importante, eles trabalharão para reduzir rapidamente suas emissões, mesmo sendo capazes de se adaptarem a um aquecimento de 2ºC?

Ou agirão como minha filha, que, quando lhe falei pela primeira vez sobre aquecimento global e elevação do nível dos mares há alguns anos, respondeu: "Não é um problema para nós, já que moramos no 15º andar".