Por Abukar Albadri Mogadíscio (Somália), 24 jan (EFE).
A seca no sul da Somália se agravou nos últimos meses e causou fome e morte no país, dizimando cabeças de gado e obrigando milhares de pessoas a buscarem refúgio nas cidades.
"Uma média de oito pessoas está morrendo diariamente de fome nessas regiões", disse à EFE Hassan Moalim Yusuf, funcionário de uma agência humanitária em um dos campos de refugiados de Mogadíscio, capital do país.
A seca atinge principalmente as regiões de Bay, Bakol e Gedo, além de algumas áreas de Jubba. Pessoas e cabeças de gado estão morrendo por causa da falta de chuvas e do baixo nível dos poços, deixando o país à beira de um desastre humanitário devido à falta de ajuda.
Calcula-se que centenas de pessoas já tenham morrido de fome.
Além disso, há milhares de animais mortos no campo por causa da falta de água.
Os habitantes não têm alternativa a não ser ir para a capital ou para outros centros urbanos, levando com eles problemas que se juntam aos que o país já tem. Desde 1991, a Somália não tem um Governo central e vive em constantes lutas entre clãs rivais.
Um desses refugiados é Isha Osman, mãe de cinco filhos que teve de caminhar por oito dias, junto com outras 35 famílias, para escapar da seca e chegar a Mogadíscio.
"Andamos 320 quilômetros para poder sobreviver. Algumas de nossas crianças morreram no caminho e outras estão perto de perder a vida", disse a mulher.
Isha é de Gofgadoud, uma vila a 30 quilômetros de Baidoa, ligada a Mogadíscio por uma estrada de 256 quilômetros.
"Perdemos todo nosso gado por causa da fome. Nos últimos dois anos, não tivemos chuva suficiente para poder colher", acrescentou.
No caminho para Mogadíscio, algumas crianças do grupo morreram, mas seus corpos tiveram de ser abandonados devido à impossibilidade de realização de um enterro formal.
Um porta-voz das famílias refugiadas em um abrigo de Mogadíscio, Osman Haji, disse à EFE que, desde que as 35 famílias chegaram à cidade no início desta semana, sete crianças já morreram.
"(As criança) não têm nada para comer, não têm um lugar para dormir e estão sem remédios. Só podemos rezar para pedir a bênção de Deus", acrescentou.
As agências humanitárias estão acompanhando a situação de perto desde dezembro do ano passado, e advertiram que a Somália enfrentará uma "grave crise de alimentos e de outras formas de sustento" se não for dada uma solução à situação.
A ajuda internacional opera com muita dificuldade na Somália por causa da anarquia no país desde que a ditadura de Mohammed Siad Barre foi derrubada do poder.
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) está enviando mantimentos à Somália, mas o que chega ao país pelo mar está sofrendo com a atividade de grupos de piratas, e a carga que chega por estradas tem de superar as barricadas dos milicianos.
A situação foi classificada como uma "catástrofe humanitária" pelo coordenador da ONU para a Somália, Maxwell Gaylard, que visitou a região de Bakol e Gedo recentemente.
Segundo dados das agências humanitárias, cerca de dois milhões de pessoas podem ser afetadas pela fome se não conseguirem, em breve, meios para subsistir.
(www.ecodebate.com.br) Fonte - UOL Notícias - 24/01/2006 - 16h13
janeiro 25, 2006
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