Por María Amparo Lasso*
Chicletes, refrigerantes, sabão e outros produtos feitos com base na folha de coca proliferam em Los Andes. Evo Morales, que assume o poder na Bolívia no dia 22 de janeiro, promete incrementar o mercado lícito da planta. Conseguirá?
MÉXICO.- Microempresários da Bolívia, Peru e Colômbia, que usam a mítica folha de coca para fabricar remédios, refrigerantes, sabão, chicletes e outros produtos, depositam suas esperanças de negócio em um homem: Evo Morales. Estes pequenos empreendedores do ainda incipiente e artesanal mercado legal da coca, satanizada por ser matéria-prima da cocaína, por anos se resignaram em vender seus produtos somente no mercado local. Agora, estão empenhados em conseguir exportá-los e levantar um pouco a abatida economia camponesa andina, caso prospere o controvertido projeto de despenalização internacional da coca de Evo Morales, indígena aymara de 46 anos que assume a presidência da Bolívia no dia 22 de janeiro.
A industrialização lícita da coca parece uma aposta arriscada, dadas as tendências atuais nos empobrecidos Andes: cai o consumo tradicional da planta nas novas gerações indígenas e aumenta seu cultivo ilegal. Porém, entre os pequenos produtores persiste o otimismo...
(...) A folha de coca (Erythroxylon coca), que segundo estudos médicos tem propriedades nutritivas comparáveis às do leite e da carne, é mastigada com fins terapêuticos e religiosos por indígenas andinos há milhares de anos e seu uso tradicional é legal na região.
Contudo, desde a década de 60 figura em uma lista de substâncias proibidas da Organização das Nações Unidas, o que limita severamente seu comércio internacional, enquanto seu cultivo alimenta o multimilionário negócio ilícito do narcotráfico.
(...) Embora Morales tenha se apressado para esclarecer que sua proposta “não é zero-coca, mas sim zero-narcotráfico”, inclusive analistas norte-americanos partidários da coca legal qualificam sua iniciativa como uma “bofetada na política antidrogas” da administração de George W. Bush e prevêem uma rota de colisão entre os dois governos. “A hora do mercado legal de coca já chegou, e é uma alternativa porque não há outros produtos agrícolas que tenham saída para o exterior”, disse ao Terramérica Bruce Bagley, especialista em narcotráfico da Universidade de Miami. “Entretanto, estamos diante de um governo muito conservador nos Estados Unidos, que não pretende inovar sua política antidrogas, e não creio que vai tolerar o desafio de Morales”, afirmou.
Os pequenos produtores, castigados por anos de falidos programas de desenvolvimento agrícola alternativo patrocinados pelos Estados Unidos, acreditam que a proposta boliviana poderia ter um efeito dominó positivo em Los Andes, que beneficiaria a todos. “Cada quilo de folha de coca que entra no mercado legal é um a menos para os narcotraficantes”, disse Curtidor, o fabricante da Coca Sek. Essa é a aposta da Empresa Nacional da Coca (Enaco), que monopoliza a comercialização da planta no Peru, onde o consumo tradicional absorve somente nove mil das 110 mil toneladas cultivadas anualmente.
(...) Muitos duvidam que a coca legal seja uma alternativa ao narcotráfico. A Enaco paga US$ 1,4 por quilo da planta, contra os US$ 5 pagos pelos traficantes. “Simplesmente, não podemos competir em preço”, admitiu Nelson Larrea, diretor da Enaco.
(...) Se o cultivo excedente é tão alto e ainda assim cresce, como aposta Morales, é de se esperar que dispare o contrabando ilícito, muito difícil de controlar devido à fragilidade institucional em Los Andes. Neste panorama adverso, Morales impulsionará negociações para que a quarta reunião da Convenção de Viena da ONU, em 2008, retire a coca da lista de substâncias ilícitas. Muitos analistas são céticos porque se trata de conseguir um consenso global, nem mais nem menos...
* Diretora editorial de Tierramérica. Com aporte de José Luis Alcázar (Bolívia).
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janeiro 23, 2006
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