Por George Monbiot
Nos últimos dois anos fiz uma incômoda descoberta. Como muitos experts em meio ambiente, tenho estado tão cego diante das restrições que afetam nosso fornecimento de energia quanto meus adversários têm estado em relação à mudança climática. Agora me dou conta de que me levei numa verdadeira crença na magia.
(...) A idéia de que singelamente podemos substituir este legado fóssil (e a extraordinária densidade de energia que ele nos dá) por energia ecológica é ciência de ficção. Simplesmente não há substituto, mas se procuram substitutos por todas as partes... E ao menos um deles é pior do que o combustível fóssil que tenta substituir.
(...)Quando escrevi sobre isso no ano passado, pensei que o maior problema que o biodiesel causava era que estabelecia uma competição pela terra [3]. A terra cultivável que de outra forma se teria usado para cultivar comida se utilizaria para cultivar combustível. Mas agora me encontro com que algo ainda pior que está passando. A indústria do biodiesel inventou acidentalmente o combustível mais carbono-intensivo do mundo.
(...) "A demanda de biodiesel", informa o Malaysian Star, "virá da Comunidade Européia... Esta recente demanda... açambarcará, no mínimo, a maioria dos inventários malasios de azeite cru de palmeira" [7]. Por que? Porque é mais barato do que o biodiesel feito a partir de qualquer outro cultivo.
Em setembro, a 'Amigos da Terra' publicou um relatório sobre o impacto da produção de azeite de palmeira. "Entre 1985 e 2000", descobriu, "a exploração de plantações de palmeiras de azeite foi responsável por 87 por cento do desflorestamento da Malásia" [8]...
(...) Antes de plantar palmeiras de azeite, tem que devastar e queimar enormes árvores dos bosques, que contêm reservas de carbono muito maiores. Quando se acaba com as terras mais secas, as plantações se tranformam em bosques de vegetação baixa, que crescem em multidões. Uma vez cortada tal vegetação, os plantadores dessecam o solo. Quando estas secam e se oxidam, liberam ainda mais dióxido de carbono do que as árvores maiores. Em termos do impacto que causam no meio ambiente local e mundial, o biodiesel de palmeira é mais destrutivo do que o petróleo crú da Nigéria.
O governo britânico entende tudo isto. No relatório que publicou mês passado, quando anunciou que cumprirá com a União Européia e assegurará que 5,75% de nosso combustível para o transporte virá das plantas para 2020, admitiu que "os riscos principais para o meio ambiente são provavelmente aqueles que concernem na larga expansão para produção de matéria prima para biocombustíveis, e particularmente no Brasil (pela cana de açúcar) e sudeste asiático (pelas plantações de palmeiras de azeite)" [10]. Sugere-se que a melhor maneira de enfrentar o problema é prevenir que se importem os combustíveis ambientalmente destrutivos...
(...) Em outros tempos, felizmente, isto era um desafio para a União Européia. Mas o que a UE quer e o que o governo quer é o mesmo. "É essencial que façamos balanço da crescente demanda de deslocamentos", diz o relatório do governo, "com nosso objetivo de proteger o médio ambiente" [13]. Até faz pouco, tínhamos uma política de reduzir a demanda de deslocamentos. Agora, ainda que não anunciado de nenhuma forma, essa política já não existe. Como fizeram os conservadores nos princípios dos anos 90, a administração trabalhista socialista tenta dar cabimento a tal demanda, igual ou maior ainda. As estatísticas que obteve a semana passada, o grupo Road Block, mostram que só para a dilatação do M1 o governo pagará 3.600 milhões de libras esterlinas, mais do que gasta na totalidade de seu programa da mudança climática. Em vez de tentar reduzir a demanda, tenta arrumar os fornecimentos. Está preparado para sacrificar os bosques tropicais do sudeste asiático para que se vejam fazendo algo, e para permitir aos motoqueiros sentirem-se melhor consigo mesmos.
Traduzido por http://copacabana.dlsi.ua.es/pt/
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janeiro 23, 2006
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