janeiro 20, 2006

Cientista alerta para uma seca pior na Amazônia em 2006

(A Tribuna) - O físico Alejandro Fonseca Duarte, coordenador do Grupo de Estudos e Serviços Ambientais da Universidade Federal do Acre (UFAC), alertou ontem que a estiagem de 2005 pode ser ultrapassada pela deste ano como a maior da história do Acre. Segundo ele, o baixo volume de chuvas seria o principal indicador desta escassez.

De acordo com os cálculos de Duarte, em janeiro de 2005, choveu metade do esperado para a média mensal. Neste ano, o primeiro mês registrou façanha ainda maior: as chuvas não chegam a 20% da média. Como o nível do Rio Acre está em torno dos 6 metros - também muito abaixo do normal , período de estiagem poderá ser ainda mais catastrófico.

"Não somente no leste do Estado, também em Cruzeiro do Sul está seco. Normalmente, durante janeiro, na região do Juruá chove 50 milímetros a menos do que no leste do Acre. Até hoje, meados de janeiro, também no Juruá somente choveu em torno de 30% do que deveria", analisa o cientista.

Ainda segundo o Acrebioclima, as chuvas totais em 2005 ficaram 200 milímetros abaixo da média normal. Como a distribuição das chuvas pelos meses do ano é insignificante nos meses de maio e setembro, os resultados foram um excesso de queimadas, fumaça, seca, e, de quebra, uma virose que levou centenas de crianças aos hospitais em todo o Estado.

"O impacto momentâneo foi aproximadamente meio milhão de hectares de áreas urbanas, rurais e florestais afetadas em todo o Acre e vizinhanças como Boca do Acre, que, embora do Amazonas, é do Acre também. Inclusive foram afetadas áreas de mata virgem, supostamente preservadas como as da Reserva Extrativista Chico Mendes", lembra Duarte.

Duarte defende uma ação imediata das autoridades para diminuir as diversas facetas dos impactos sociais, econômicos e ambientais da estiagem prolongada. O pesquisador, no entanto, duvida se há tempo para diminuir as conseqüências negativas de uma nova onda de calor, queimadas e falta d'água. Entre outras razões, principalmente porque o próprio poder público continua às voltas com os resultados do mesmo fenômeno em 2005.

"Tivemos milhares de atendimentos médicos, centenas de internações hospitalares e dezenas de mortes, além de impactos da seca, da fumaça e da ausência ou demora em se reconhecer e declarar as situações críticas de qualidade do ar", critica o cientista.

Como exemplo de conseqüência econômica da estiagem passada é o súbito aumento de preços de vários itens, principalmente frutas e raízes de largo consumo no Acre. Ao contrário do que se especulou em parte da imprensa local, foram as queimadas, e não a suposta escassez atual do Rio Acre, que causou a súbita expansão de preços.

"A macaxeira, que há um ano custava 50 centavos por quilo, hoje custa 1,2 real. Três abacaxis se compravam por 5 reais, hoje por três reais só se compra um abacaxi. Com dois reais se comprava um cacho de banana comprida, hoje seis bananas custam dois reais. Há um ano, com 50 centavos, se comprava uma palma de banana curta, hoje uma palma de inferior qualidade custa um real. Tudo é conseqüência da estiagem passada, que atingiu as safras", revela. (Josafá Batista)

Nota GTA: O alerta do pesquisador da UFAC sobre a tendência de uma nova onda de intensa estiagem no Acre deve ser analisado em toda a Amazônia Ocidental, onde o fenômeno atingiu em 2005 os estados do Amazonas, Rondônia e até mesmo Pará. Um plano estratégico para a vulnerabilidade social e climática das comunidades ribeirinhas precisa estar pronto em pouco tempo e isso deveria envolver os movimentos sociais, ambientais, centros de pesquisa e órgãos governamentais diante dos vários cenários possíveis desse fenômeno(JAO).

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