Por Heitor Shimizu
Agência FAPESP - Que o Sol é a fonte de energia fundamental para a existência de vida na Terra, não é novidade para ninguém. Mas o que pouco se conhece é o real impacto no planeta de eventos ocorridos na estrela a 150 milhões de quilômetros de distância. Sabe-se que explosões solares podem afetar sistemas de telecomunicações, mas qual é o peso de tais eventos no clima ou mesmo para a população?
Muito se tem falado sobre as mudanças ambientais no planeta e em suas formas de vida, assunto que motiva discussões e eventos grandiosos, como a 8ª Conferência da Convenção sobre Diversidade Biológica das Partes, que será realizada em março, em Curitiba. Mas se o ambiente global tem sido debatido à exaustão, o mesmo não se pode dizer de outro ambiente extremamente importante, o espacial.
Para aumentar a compreensão atual do ambiente espacial, o Comitê Científico Internacional de Física Solar-Terrestre (Scostep) lançou o programa Cawses (Climate and Weather of the Sun-Earth System), para ser conduzido por pesquisadores de diversos países – entre os quais o Brasil – no período de 2004 a 2008.
Os progressos conseguidos pelo programa até o momento serão apresentados no 11º Simpósio Internacional sobre Sol, Ciência Espacial e Clima (STP-11), que começa na segunda-feira (6/3), no Rio de Janeiro. A programação do simpósio, que vai até 10 de março, está dividida nas quatro principais áreas temáticas no programa Cawses: Influência do Sol no clima; Clima espacial: ciência e aplicações; Processos de acoplamento atmosférico; Climatologia espacial.
“A realização do STP no Brasil é um acontecimento muito importante para a ciência brasileira, uma vez que o simpósio, que é realizado a cada quatro anos, apresenta os mais novos estudos sobre ambiente espacial”, explica Pierre Kaufmann, coordenador do centro de Radioastronomia e Astrofísica da Universidade Presbiteriana Mackenzie e presidente do comitê organizador do evento.
Embora o ambiente solar-terrestre seja geralmente considerado em termos de domínios físicos separados – como Sol, Terra, heliosfera, magnetosfera ou atmosfera –, trata-se de um sistema cujo estado em um determinado tempo e em uma região específica resulta de uma combinação de múltiplos processos físicos, que ocorrem simultaneamente ou em seqüência em vários domínios.
Segundo Kaufmann, há indícios de que fenômenos como explosões solares tenham grande influência no clima terrestre, além de provocar danos ou problemas em equipamentos. Como exemplos, cita o desligamento de disjuntores em linhas elétricas, motivando apagões, ou falhas nos satélites da constelação GPS, que podem deixar de funcionar por algum tempo. Dependendo do nível, a explosão solar pode até mesmo queimar componentes dos satélites em órbita da Terra.
Em setembro de 2005, em outro exemplo, os efeitos da quarta mais forte explosão solar em 15 anos foram sentidos em diversas partes das Américas do Sul e do Norte, resultando em panes momentâneas nas transmissões de rádio em alta freqüência.
Radiação no espaço
Apesar de o estudo da física solar-terrestre ser antigo – Galileu observou manchas solares no século 17 –, a importância da área cresceu especialmente nos últimos anos, quando os cientistas passaram a estudar com mais profundidade o ambiente espacial, em busca de entender melhor seus efeitos no ambiente terrestre.
Um exemplo de pesquisa recente vem da Inglaterra, feita por Giles Harrison e David Stephenson, da Universidade de Reading, e publicada em janeiro nos Proceedings of the Royal Society. Os dois analisaram dados de 50 anos de radiação solar, medidos em diversos pontos do planeta, para concluir que os raios cósmicos têm influência no clima.
Segundo o estudo, em dias com maiores níveis de radiação, as chances de o tempo ficar nublado aumentam em 20%. Os pesquisadores contam que, ao atingir a atmosfera terrestre, os raios solares produzem partículas carregadas que aparentemente estimulam o crescimento de nuvens. Para Harrison e Stephenson, se comparadas com os gases que provocam o efeito estufa, a influência da radiação solar é pequena, mas pode ajudar a explicar algumas das misteriosas mudanças no clima terrestre ocorridas no passado.
O Simpósio Internacional sobre Sol, Ciência Espacial e Clima ganha destaque também por ocorrer próximo à viagem do primeiro astronauta brasileiro, que deve seguir para a Estação Espacial Internacional em 30 de março.
A influência do ambiente espacial no ser humano é outro assunto que vem sendo estudado pela física solar-terrestre. Na superfície da Terra, a atmosfera protege o homem dos efeitos da radiação solar – ainda que isso não impeça as queimaduras na pele pelo excesso de exposição. Mas, no espaço, sem essa barreira natural, os raios atingem diretamente as naves. O que representa um grande problema para a exploração espacial.
“Nem precisa ir tão longe. Empresas aéreas já submetem as tripulações a exames periódicos para medir os efeitos da radiação”, diz Kaufmann. Se dentro de uma espaçonave ou estação espacial os efeitos da radiação solar podem ser significativos – embora não se saiba exatamente quanto –, ao sair dos veículos os astronautas estão muito mais sujeitos a riscos. E é essa uma das maiores preocupações da Nasa, a agência espacial norte-americana, que pretende enviar missões tripuladas à Lua e a Marte, nas próximas décadas.
Para destacar a relevância da física solar-terrestre, 2007 será o Ano Heliofísico Internacional, exatamente meio século após o Ano Geofísico Internacional, comemorado em 1957, mesmo ano em que foi lançado o primeiro satélite, o Sputnik soviético, dando início à exploração do espaço pelo homem.
STP-11: www.grahnoperator.com.br/events/scostep
março 03, 2006
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