NAIRÓBI (Reuters) - A seca na Somália ameaça a vida de centenas de milhares de pessoas, e algumas delas estão tendo de beber a própria urina para não morrer de sede e de andar o equivalente a duas maratonas para encontrar água, afirmou na quinta-feira um grupo de ajuda humanitária.
No momento em que o leste da África enfrenta uma das piores secas dos últimos anos, a árida Somália surge como um dos países mais afetados.
As famílias de pastores do país estão sendo obrigadas a sobreviver com um vigésimo da quantidade mínima de água recomendada.
"Muitas famílias estão sobrevivendo com apenas um latão de 20 litros de água para três dias. Isso equivale a 830 mililitros, ou três copos de água, para cada pessoa por dia para beber, cozinhar e se lavar", afirmou o grupo, cuja sede fica na Grã-Bretanha.
"A equipe de monitoramento da Oxfam também obteve relatos sobre pessoas obrigadas a beber a própria urina devido à falta crônica de água provocada pela seca", acrescentou a entidade em um documento.
Algumas pessoas tinham de caminhar 70 quilômetros para encontrar água, sob um calor de até 40 graus.
"Segundo nossos enviados, há pessoas na Somália que estão tendo de andar duas maratonas para buscar água porque as fontes próximas não passam agora de terra rachada", disse o grupo.
"O fardo é maior para as mulheres, sobre as quais pesa geralmente a responsabilidade de realizar as viagens semanais de coleta de água."
QUENIANAS SOTERRADAS
O Oxfam disse ter lançado operações de emergência para distribuir água e ajudar até 200 mil somalianos vulneráveis e seus animais, principalmente na região sul do país, na fronteira com o Quênia.
"Essa situação é a pior que consigo me lembrar. Algumas pessoas estão morrendo e as crianças estão bebendo sua própria urina porque simplesmente não há mais água disponível", afirmou Abdullahi Maalim Hussein, morador idoso de um vilarejo da Somália.
O país, que fica na região conhecida como Chifre da África e possui cerca de 10 milhões de habitantes, não conta com um governo regular desde a derrubada o ditador Mohamed Siad Barre, em 1991.
Milícias costumam atacar os comboios com material de ajuda.
Em todo o leste da África, centenas de pessoas e dezenas de milhares de animais já teriam morrido devido à fome e à falta de água desde o começo da seca, no final de 2005.
Como acontece na Somália, milhões estão sofrendo no Quênia, na Etiópia, na Eritréia, na Tanzânia e em Burundi.
A seca deve durar ao menos até o começo de abril, segundo a Organização Meteorológica Mundial.
O grau de desespero que toma conta da região fica patente no episódio em que quatro quenianas foram soterradas vivas em um poço.
Elas cavavam mais fundo depois de caminhar 10 quilômetros em busca de água porque um rio local e uma outra fonte tinham secado.
"A escassez de água provocada pela seca atingiu duramente o vilarejo de Lolita e outros vilarejos próximos, levando as pessoas a arriscarem suas vidas na busca por água", afirmou o chefe de polícia Bernard Muli ao jornal queniano Standard.
"Como a água não estava chegando à superfície, as mulheres continuaram tirando areia. Elas não sabiam que as paredes do poço estavam ficando mais fracas", afirmou Muli.
Por Andrew Cawthorne
fevereiro 18, 2006
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