KAMILA FERNANDES - da Agência Folha, em Fortaleza
A seca já levou à situação de emergência 141 dos 184 municípios do Ceará. Por lei, 123 deles, que já tiveram a emergência reconhecida pelo governo federal, deveriam receber a ajuda de carros-pipa para o abastecimento d'água da população. Por falta de verbas, toda a ajuda federal está suspensa.
Segundo a assessoria de imprensa do Ministério da Integração Nacional, responsável pela liberação de recursos para atender situações como essa, não há dinheiro porque não há orçamento.
Ainda tramita no Congresso Nacional a lei do orçamento deste ano e, enquanto ela não for aprovada, nada poderá ser feito, de acordo com a assessoria.
Em 2005, o Ministério disponibilizou R$ 17 milhões para o socorro no período de seca. Para este ano, ainda não há um valor fechado.
A entrega de água pelos carros-pipa é feita pelo Exército, que nem chegou a atender a todos os municípios em situação de emergência, apenas 69 deles.
Até esta semana, com o dinheiro que restava, o abastecimento ainda era mantido em algumas localidades.
"Mas, na próxima semana, parece que já não haverá mais nada", disse o coordenador da Defesa Civil no Ceará, coronel Murilo Lobo de Queiroz.
O Estado, segundo ele, não tem como fazer esse trabalho. Com verba federal, está apenas distribuindo cestas básicas, mas às escondidas, porque são poucas, insuficientes para toda a população carente.
Escassez de água
A Defesa Civil calcula que 100 mil famílias estejam sofrendo com a escassez de água no Ceará.
A cesta, de 21 quilos e itens como feijão, arroz, macarrão e óleo, não está sendo entregue regularmente a cada mês. São identificadas famílias pobres que não estão cadastradas em nenhum programa social do governo, e a Defesa Civil entrega os alimentos de forma esporádica.
"Chegamos no mesmo dia com as cestas e fazemos a entrega imediatamente, de forma discreta, sem hora marcada, para não causar confusão e evitar até possíveis saques", disse Queiroz.
Há cidades que já convivem com a ameaça de um colapso de água na própria sede do município, como Catarina, Itapajé, Milhã e Irauçuba. Nenhuma delas será beneficiada pelo projeto de transposição de águas do rio São Francisco.
Sem os carros-pipa do governo federal, os prefeitos e outros políticos locais é que se incumbem de contratar carros para a distribuição gratuita de água.
Onde isso não acontece, o jeito é pagar pela água, vendida em carroças ou no lombo de jumentos. A água encontrada em cacimbas e poços é geralmente salobra (muito salgada), imprópria para o consumo.
Piauí
No Piauí, a Defesa Civil informou que 112 dos 222 municípios decretaram estado de emergência em razão da seca. Estimativa do órgão aponta que cerca de 250 mil pessoas foram atingidas pela falta de chuvas no Estado.
Até o final de 2005, o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), havia assinado 97 decretos de emergência.
Na maior parte dos 112 municípios, o abastecimento está sendo feito com carros-pipa, disse o chefe da Defesa Civil do Estado, Francisco Barbosa.
(www.ecodebate.com.br) Fonte - Folha Online - 01/02/2006 - 21h10
Nota do Ecodebate
Há muito tempo que o argumento da transposição do rio São Francisco para "levar água a quem tem sede" é insustentável diante dos fatos.
O projeto atenderá apenas 5% do semi-árido brasileiro, o que significa manter grande parte da população sem acesso à água transposta.
O Ceará receberá cerca de 14% do volume transposto, mas ainda assim a maior parte dos municípios e comunidades isoladas ainda será dependente dos carros-pipa, conforme demonstra esta matéria.
Henrique Cortez, henriquecortez@ecodebate.com.br
coordenador do EcoDebate
fevereiro 02, 2006
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