fevereiro 08, 2006

Paradoxo climático

Agência FAPESP - Quando o outono chegar, serão lançadas 8 mil barcaças sobre as águas do mar do Norte para fazer o gelo que vem do Ártico aumentar de espessura. A cena, que parece de ficção, pode se tornar uma triste realidade caso se comprovem as previsões climáticas sombrias para a Europa por conta do aquecimento global.

Estudos recentes indicam que as correntes com água fria que vêm do pólo Norte estão ficando mais fracas. Como conseqüência, elas vão migrar menos para a região dos trópicos, desequilibrando o clima do norte europeu.

Hoje, ao submergirem e se deslocarem para a zona equatorial do Atlântico, as correntes frias deixam uma espécie de vácuo. É aí que entra a água quente dos trópicos, um processo fundamental para regular o clima pela troca de calor com o ar. Para que o ciclo continue bem nutrido, é preciso que as águas geladas do Ártico não se enfraqueçam a ponto de reduzir os vácuos que seriam ocupados pelas correntes tropicais.

Pesquisadores da Universidade de Alberta, no Canadá, estudavam a dissolução de carbono nas águas do mar do Norte quando tiveram uma idéia para solucionar o problema. A saída, segundo eles, seria colocar no mar, antes do inverno, barcaças para borrifar água salgada sobre a camada de gelo que começa a se formar nessa época do ano.

O processo seria repetido também na primavera. Quanto mais gelo e mais água salgada sobre ele, maior a espessura dos blocos. O resultado é mais frio e mais força para que as correntes que passam por ali migrem em busca do sol equatorial.

Os cálculos do custo dessa operação, em um primeiro momento, assustaram: US$ 50 bilhões. “Existem, no mínimo, 100 milhões de pessoas na Europa que serão afetadas pelo enfraquecimento das correntes. Portanto, seriam US$ 500 para cada uma delas. Um preço bem razoável para que as vidas sejam mantidas”, argumenta Peter Flynn, pesquisador que coordenou o estudo das barcaças.

“Mas é claro que isso não passa de um paliativo, de uma solução emergencial para ser usada algum dia”, disse Flynn, da Universidade de Alberta, em comunicado da instituição. “É preciso lembrar que, em relação ao aquecimento global, é preciso combater as causas desse processo, e não apenas os seus sintomas. O mais importante é parar de queimar combustíveis fósseis.”

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