janeiro 17, 2006

Está em regime climático de formação do 2o deserto no Sul do Brasil

Você Governador, você Prefeito, você vereador, você deputado estadual, você deputado federal, você Senador, que recursos vocês utilizariam para atender aos impactos sócio-econômicos causados por uma pandemia, por um novo Catarina, ou por um inusitado período de 24 meses de secas com gigantescos incêndios florestais?

Nenhum desses senhores saberá dar essas respostas. Nunca se preocuparam com tais mudanças do clima em andamento.

Por Gert Roland Fischer(*)

Extensas áreas da planície gaúcha há décadas, vem-se transformando em dunas e áreas sem vegetação. Essa desertificação causada pelo mau uso do solo vem tendo a atenção dos técnicos do Rio Grande do Sul para tentar reverter o quadro, reduzir o crescimento e até planejar a sua recuperação.

A mais recente novidade que chama a atenção das autoridades não só do RS, mas também de SC, Paraná e Sul do MS, são os períodos de estiagem que a região Oeste desses estados, está sendo submetida nos últimos 5 anos, registrando-se períodos que vão até de 6 meses sem a ocorrência de chuvas regulares.

Os danos causados ao agronegócio, ao comércio, aos cofres desses Estados, esta se repetindo, fazendo com que essas regiões não mais ofereçam sustentabilidade econômica, social e ambiental para os seus moradores, empreendedores e proprietários rurais.

Começou a debandada para as cidades. A venda de propriedades rurais anda quente. O fechamento de agroindústrias, a diminuição da oferta de emprego, o desemprego que já assusta, a redução drástica dos negócios em todos os níveis e áreas e a redução de pagamento de impostos, são as primeiras conseqüências da falta de chuvas.

As estatísticas disponíveis dos prejuízos, são meras especulações. Estado Brasileiro não tem competência suficiente para avaliar - a curtíssimos prazos - as perdas sofridas pelas mudanças do clima. Assim fica impossibilitado para planejar e promover – rapidamente – ações emergenciais e de socorro aos flagelados ambientais.

Fazendo uso da bola-de-cristal, aliado às informações pouco confiáveis apresentadas pela imprensa regional na abordagem diária que faz do gravíssimo problema da escassez da água, pode-se arriscar em apresentar alguns números e dos prejuízos que certamente ultrapassarão bilhões de reais que não estão mais circulando nessas regiões castigadas.

Açudes secos, racionamento de água na zona rural e em cidades de significativo porte, rios que desaparecem expondo os leitos secos, comercio fechando, numero de falências em ascensão, aumento assustador de inadimplência bancária, venda de propriedades rurais sem cotação, tratores, equipamentos do agronegócio, abandono de propriedades rurais, suicídios, aumento de doenças nervosas, desespero e desesperança, são alguns dos sintomas gravíssimos que estão sendo mostrados nos últimos 3 anos com grande nitidez.

As autoridades dos Estados envolvidos devem se reunir, abandonando totalmente os mecanismos viciados de fazer negócios com o ainda restante dinheiro publico, e montar o quebra-cabeça da região da seca, buscando encontrar mecanismos que possam minimizar prejuízos, socorrer a população, e criar alternativas para o novo padrão de clima que esta se implantando em decorrência das mudanças climáticas ao qual o Planeta Terra está sendo submetido pela insanidade do ser humano.

As fotos estampadas nos periódicos estaduais e regionais não mentem. O que os olhos vêem o coração realmente sente mais. Acabaram-se os tempos de fartura. Nessas regiões castigadas e que não souberam respeitar os recursos naturais – Rios, Encostas, mananciais, cursos de água doce, e principalmente as florestas nativas que abasteciam as nuvens, renovavam pontualmente as chuvas, captavam as águas da chuva e mantinha tudo funcionando com um povo feliz a primavera risonha – infelizmente acabou.

O que fazer?
Existem sim, tecnologias a disposição que permitem aos Governos, aos proprietários rurais, aos empreendedores, as associações de classe, aos legislativos municipais, aos legislativos estaduais, procedimentos viáveis que minimizarão e modificarão o cenário de uso do solo nessas regiões fustigadas pela falta de água e de extremo calor.

Que soluções milagrosas seriam essas?
Se analisarmos a resistência à falta de água do milho, soja, trigo, centeio, alfafa, pastagens, entre outras culturas de ciclo curto, veremos que os vegetais de ciclo mais longo como o são as fruteiras de clima temperado e quente, as arvores nativas e as arvores exóticas, que não há outra escolha a fazer. Soluções que se adotadas imediatamente, salvarão a propriedade rural, diminuirá a tensão nervosa do povo e mostrará esperanças duma exploração florestal compensadora de médio e longo prazos. Nada que o financiamento racional e ético não solucione.

Mas esse sistema de reposição florestal em região que está se transformando em deserto, tem seus limites e características próprias. Exigirá um manejo diferenciado. Tais atitudes exigirão das autoridades quer publicas como do empresariado, que se portou até agora como um simples explorador dos recursos naturais, uma visão racional mais comedida e mais paciente.

Com a natureza ferida, as coisas caminham de forma mais lenta, a recuperação é demorada e dependendo da gravidade com que já se implantou a desertificação, talvez nem a silvicultura tenha ainda condições de ser implantada.

Temos informado aos nossos leitores, principalmente os profissionais ligados ao agronegócio dos estados do Sul e ligados ao sistema CREA-CONFEA, que - ao implantar um sistema florestal em região de pré-deserto, cuidados especiais devem ser tomados, principalmente quando a questão trata dos incêndios florestais. Quando as temperaturas ultrapassam os 30 graus centígrados, as águas evaporam com muito mais rapidez, secando açudes e rios caudalosos, até. Nesse cenário perigoso as chamas se manifestam espontaneamente nos reflorestamentos.

O suprimento de água para atender aos viveiros florestais, é de primordial importância. Cisternas deverão garantir essa água nos períodos longos de estiagem. As florestas deverão ter a proteção de equipes de combate aos incêndios. Os equipamentos usados nas regiões em regime de deserto, deverão contar obrigatoriamente com aviões tanques de combate às chamas. Para abastecer essas aeronaves ainda não disponíveis no Brasil, não só campos de pouso deverão ser previstos e construídos, como açudes de grande porte deverão estar a disposição para o abastecimento dos tanques feito em pleno vôo feito sobre esses reservatórios a céu aberto.

Os Estados atingidos - pelo 5º ano consecutivo, com as estiagens nas regiões Oeste respectivamente, não desenvolveram ainda legislação competente. Também não dispõe de fundos especiais de grande monta. Não tem equipes técnicas preparadas. Sequer elaboraram políticas publicas para regimes de guerra.

Infelizmente, ainda não se defrontaram com o pior. Uma exceção deverá ser creditada ao Governo de Esperidião Amim, que nos anos de 1963 e 1964, se defrontou com as catastróficas enchentes em SC. A maioria das autoridades vive no limbo e na plena ignorância dos fatos que poderão ser desencadeados em regimes de surpresa e bola da vez. Não fazem esses senhores da política de paises de 3ª categoria, a mínima idéia – (e ainda livres de catástrofes em seus estados), o que são os incêndios florestais que ocorreram recentemente na Califórnia, na Espanha, em Portugal, na Austrália, na China, etc., onde - também – as condições e os regimes climáticos estão sendo modificados pelo aquecimento global, mudando a disponibilidade de água nos ecossistemas.

Recomenda-se – urgentemente - nos estados envolvidos e nos demais, onde também o clima esta se ajustando globalmente à destruição causada pelo ser humano, que criem – imediatamente - grupos de trabalho que venha oferecer:

- a minimização do sofrimento de grandes contingentes populacionais,

- que planejem onde alojar os flagelados dos furacões, das enchentes, das trombas d’água, dos granizos descomunais, dos fortes ventos programados, dos “Catarinas”, dos incêndios e da calamidade publica pela falta total de água.

Esta tudo por fazer. Nós gaúchos, catarinenses, paranaenses e mato-grossenses do sul, passageiros dessa embarcação que navega em atmosfera turbulenta, sabemos que:

1. os mais pobres morrerão primeiro,

2. os mais pobres morrerão por falta de assistência,

3. os mais pobres morrerão de doenças climáticas que estão chegando,

4. passaremos a utilizar cada vez mais vernáculos que estavam esquecidos, como é o caso das pandemias.


Cabe ao sistema CREA-CONFEA abrir a discussão desses temas que envolvem obrigatoriamente todos os profissionais da engenharia, arquitetura e agronomia.

(*) – engenheiro agrônomo, estudioso do clima, Laureado pela ONU com o premio Global 500, Premio Von Martius e auditor ambiental.

Um comentário:

Anônimo disse...

Solicio aos atentos leitores que corrijam as datas de 1963/64 para 1983/84. Desculpem o cochilo.]
Atenciosamente

Gert Roland Fischer
autor do artigo.
CREA-sc 1288-4 - Cart. Porf. 46-D