abril 25, 2006

TRANSNACIONAL: Cai a máscara do McDonald's

Igor Ojeda
da Redação Brasil de Fato

Agricultores da Flórida (sudeste dos EUA) deram início a uma campanha de conscientização sobre as péssimas condições de trabalho impostas pelos fornecedores de tomate da rede McDonald's ao realizarem, entre os dias 26 de março e 1º de abril, o McDonald's Truth Tour (Caravana da Verdade McDonald's).
Os manifestantes saíram de Immokalee e seguiram em direção à sede da transnacional em Chicago (Estado de Illinois, no norte do país), divididos em três frentes. Durante o percurso, feito de ônibus, passaram por 17 cidades, onde realizaram dezenas de protestos, palestras e comícios.

ESCRAVIDÃO
Os trabalhadores, praticamente todos de origem hispânica, reivindicam, entre outras coisas, o pagamento, por parte do McDonald's, de dois centavos de dólar a mais por cada quilo de tomate comprado de seus fornecedores e a criação de um código de conduta baseado em padrões trabalhistas mais justos.
Mas se não conseguiu tal compromisso da rede de lanchonetes, o protesto serviu para causar um grande impacto na opinião pública da região percorrida, de acordo com Lucas Benitez, da Coalizão dos Trabalhadores de Immokalee (CIW, a sigla em inglês), a organizadora da caravana. "Falamos com milhares de pessoas sobre a avareza do McDonald´s e como ele não quer fazer uma mudança real nas vidas dos trabalhadores que colhem seus tomates", diz Benitez.

EXPLORAÇÃO
Em março do ano passado, usando a mesma estratégia da caravana para protestar, a CIW conseguiu arrancar da rede de restaurantes Taco Bell um aumento dos valores pagos a seus fornecedores de tomates, assim como um monitoramento conjunto das condições de trabalho impostas por estes. Desde então, a entidade vem convocando o McDonald's a seguir o mesmo exemplo. Segundo a CIW, a prática da empresa de comprar tomates em alta quantidade permite que ela consiga preços extremamente baixos, o que faz com que seus fornecedores explorem seus trabalhadores, pagando salários baixíssimos e, em alguns casos, submetendo-os inclusive a condições de escravidão moderna, como denuncia Benitez. "Estamos falando de trabalhadores que estão detidos contra sua vontade, com guardas armados que os vigiam 24 horas por dia, e recebem entre 20 e 40 dólares por semana. Se um deles escapa e é resgatado, o patrão o reprime em frente dos outros para que sirva como exemplo." É o caso do guatemalteco Cruz Salucio Perez, 21 anos. Deixou a cidade de Concepción Huista, no departamento de Huehuetenango, rumo aos EUA "com um sonho de alcançar uma vida melhor".

O jovem contou ao Brasil de Fato que acorda todos os dias às 4 horas da manhã para trabalhar. Ao chegar à plantação, começa a exploração. "O patrão te entrega um balde e a primeira coisa que diz é: 'quero tomate limpo, quero um bom tamanho'. Temos que fazer o que eles pedem, se você não cumpre, não te dão trabalho no dia seguinte", afirma. Sempre com a preocupação na produtividade, os agricultores param apenas por dois minutos para almoçar. Mas tamanho esforço está muito longe de ser recompensado. "Não temos benefícios nem seguro médico. Há maus-tratos, baixos salários. Não temos direito de nos organizar."

Perez conta que, trabalhando seis dias por semana, um agricultor ganha algo em torno de 300 dólares, insuficientes para comprar comida, pagar o aluguel e mandar uma parte para a família no país de origem. Cobra-se pelo aluguel de um quarto 200 dólares, semanalmente. "Temos que buscar outras cinco pessoas para dividir o espaço.
Vivemos todos amontoados." Para Lucas Benitez, do CIW, enquanto o McDonald's seguir comprando apenas de grandes fazendeiros, "que são os menos interessados em ver mudanças nas vidas dos trabalhadores", não pode assegurar que seus tomates não sejam colhidos por meio de exploração e escravidão.

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