Notícias do I Encontro de Educação para a Vida promovido pela NUPCTIS *, da Vice-Diretoria de Pesquisa do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) em 11 e 12 de Setembro de 2006.
Entre tantos desafios ligados à promoção da saúde como a descoberta de novos medicamentos, pesquisas que nos façam entender os mecanismos fisiológicos que permitem as doenças se desenvolverem e mesmo a promoção das condições mais básicas de manutenção da saúde das comunidades, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vinculada ao Ministério da Saúde e a mais destacada instituição de ciência e tecnologia em saúde da América Latina, realizou esta semana um encontro histórico de saberes transformadores.
Com a proposta de discutir a “base filosófica e prática de uma ciência nova alicerçada no autoconhecimento e no reconhecimento de que a vida é a expressão máxima das energias criadoras e portanto fonte geradora de saúde e bem estar”, o I Encontro de Educação para a Vida marca uma nova página nas vidas daqueles que tiveram a oportunidade de assistir – no distante e bucólico bairro de Jacarepaguá, no Instituto Juliano Moreira e ex-sede do hospital psiquiátrico – o diálogo de personalidades mundialmente conhecidas por seus pensamentos transformadores e por suas ações de conscientização e redescoberta daquilo que consideramos vida.
O cuidado para com os seres vivos, a Terra, e todo o ambiente que nos vemos envoltos, permeou todas as apresentações nos dois dias do encontro. A visão antropocêntrica, tão comum em nosso dia-a-dia, não foi sequer lembrada nesses dois dias de prática, vivência e aprendizado. A tranqüilidade proporcionada pela localização alheia aos distúrbios da cidade em movimento, permitiu que os conferencistas nos introduzissem em seus conhecimentos e históricos de cuidado, amor e ligação com a Natureza. Leonardo Boff, David Crow, Ana Primavesi e Nina Rosa Jacob deixaram plantadas nas terras distantes de Jacarepaguá, as sementes de um novo conceito, ou mesmo cultura, em saúde a ser pesquisado e desenvolvido pela FioCruz.
Leonardo Boff
A primeira apresentação, a de Leonardo Boff, ex-padre defensor da Teologia da Libertação e atualmente engajado nos preceitos da ‘Carta da Terra’ nos introduziu à percepção da grandiosidade da casa em que vivemos; como uma unidade, seres humanos e a Terra comungam como único ser.
Esta visão que engloba, sem generalizar, a existência sob uma perspectiva complexa e que interliga toda a diversidades de seres com seus respectivos habitat e com o todo, é hoje alvo de infindáveis pesquisas ligadas à física quântica, astrofísica, biologia, fisiologia, química e etc. A ciência, que tanto nos separou da totalidade e da crença em forças invisíveis e em princípio inexplicáveis, hoje nos possibilita rever tais conceitos sob a ótica da universalidade, possibilitando assim a criação de uma cultura voltada a interesses menos subordinados e restritos.
As condições em que se encontram, atualmente, nosso sistema vivo urgem de modificações de pensamento e inclusive de sentimento. Para Boff o momento de cuidarmos da vida e de nós mesmos não pode ser deixado para amanhã, para as próximas gerações que talvez nem tenham a oportunidade de vir como nós viemos. Para Boff é hora de renascimento para a humanidade já nascida.
David Crow
À tarde do dia 11 foi a vez de David Crow, norte americano que durante 10 anos peregrinou pelas montanhas longínquas do Himalaia, trazendo ao ocidente conhecimento e ervas da medicina Ayurvédica e Tibetana. Estudando com monges e cientistas, Crow aprendeu as práticas da medicina repassada através de meditações, visualizações de Buda e entoação de mantras. A medicina contemplativa aprendida por Crow tem muito a ensinar aos ocidentais assim como os ocidentais tem muito a nos ensinar, segundo ele, a medicina Tibetana é capaz de curar os males que a medicina ocidental não consegue, tal como o câncer, e a medicina ocidental é capaz de tratar os nossos, como aqueles trazidos pela miséria.
Percebendo que a poluição ambiental e a destruição dos ermos bosques onde se encontram as plantas da medicina oriental colocam em risco a continuação de tais práticas medicinais ancestrais, David buscou encontrar alternativas ao tratamento de seus pacientes. Sendo cada vez mais valorizados pela grande demanda, os medicamentos herbáreos, produzidos através de técnicas e cuidados milenares, começaram a impossibilitar grande parte dos tratamentos de Crow, e foi assim que ele iniciou seus ‘Learning Gardens’.
Há cinco anos Crow iniciou uma democratização de seus tratamentos, ensinando a seus clientes a plantar, colher e fabricar seus próprios medicamentos. Uma pequena revolução já ensinada pelo Buda da medicina, entendido por Crow em seus estudos no Himalaia. A experiência de plantar e colher seu próprio jardim, fez Crow perceber que as pessoas envolvidas iniciam um processo de mudança comportamental e também de pensamento, voltando-se a entender a grandiosidade do Reino Vegetal como também do planeta como um todo.
As experiências Crow multiplicaram-se por todo os Estados Unidos, onde dezenas de unidades estão em funcionamento em escolas, parques, em propriedades particulares e muitas delas encontram-se em centros urbanos. Neste ponto Crow demonstrou sua preocupação para quando uma possível escassês de energia impossibiltar a obtenção de alimentos, já que dependemos de alimentos trazidos de locais extremamente distantes.
Junto ao trabalho na sociedade norte-americana, Crow desenvolve a restauração de comunidades em todo o planeta. Reabilitando, ensinando e assim desenvolvendo, economias auto-sustentáveis e ambientalmente saudáveis, através da produção de óleos essenciais extraídos de plantas muitas vezes em risco de extinção pelos mais diversos cantos, entre todos os continentes.
Esse trabalho andarilho, árduo e muitas vezes solitário, para Crow é gratificante quando projetado em dimensões cósmicas como a criação de uma cultura espiritual, fruto de uma sociedade sadia em seus corpos, em seu ambiente e em sua consciência. A doença, segundo Crow, é resultado da carência e dos excessos, a carência tanto pode ser de nutrientes quanto de afeto e assim são os excessos. E a saúde do homem é resultado de si e de todo o meio em que se encontra, portanto um planeta doente é resultado do homem e vice-versa.
As apresentações do dia 12 estarão na próxima edição.
*O Núcleo de Pesquisa em Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz/IFF tem por objetivo produzir conhecimentos na área de Saúde Pública e Promoção da Saúde. O NUPCTIS se interelaciona com as instituições afins e o saber produzido nas atividades de pesquisas se difundem para o ensino e aplicação social. Visa contribuir com desenvolvimento de produtos e inovações tecnologicas que façam avançar os setores de Promoção da Saúde. O Núcleo tem o compromisso de difundir a informação de ciência e tecnologia para sociedade.
Por Clarissa Taguchi
setembro 14, 2006
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