do UOL News, em São Paulo*
A temperatura da Terra aumentará entre 1,8 º C e 4 º C até o fim do século, segundo o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), apresentado hoje pela manhã em Paris. O texto afirma que há uma "enorme probabilidade" de que o aquecimento se deva à ação humana.
O grupo, criado pela ONU (Organização das Nações Unidas) e pela Organização Meteorológica Mundial em 1988, reúne atualmente 2.500 cientistas de mais de 130 países e prevê mais chuvas fortes, derretimento de geleiras, secas e ondas de calor.
Entre outras conclusões, o estudo aponta a possibilidade do derretimento total do gelo do Pólo Norte até 2100 e a redução da cobertura de neve em outras áreas do planeta. Isso significará uma elevação do nível do mar, que, de acordo com os diferentes cenários avaliados pelos cientistas, poderia chegar a até 59 cm.
Nas próximas duas décadas, a temperatura aumentará 0,2 º C por década devido ao efeito estufa acumulado, e também será inevitável que o aumento continue ao ritmo de 0,1 º C por década, ainda que o nível de emissão de poluentes seja contido e se equipare ao nível de 2000.
O texto afirma ser "muito provável", com mais de 90 por cento de probabilidade, que atividades humanas, principalmente a queima de combustíveis fósseis, expliquem a maior parte do aquecimento nos últimos 50 anos. O documento é mais duro que o último relatório, de 2001, quando o IPCC disse que a ligação era "provável", com 66 por cento de probabilidade.
Os especialistas do IPCC, que baseiam suas estimativas no compêndio das pesquisas científicas realizadas nos últimos seis anos para corrigir os dados de seu relatório anterior, de 2001, calculam que, de acordo com os vários modelos, a escala de aumento das temperaturas poderia aumentar entre 1,1º C e 6,4º C.
Fenômenos extremos como ondas de calor e trombas d'água serão cada vez mais freqüentes e os ciclones tropicais mais intensos, principalmente na velocidade do vento e nas chuvas que provocam. Estas transformações obrigarão dezenas de milhares de pessoas a abandonar suas casas e o número de refugiados do clima será superior ao de refugiados de guerra, alertam alguns especialistas.
Segundo os redatores do relatório, é "muito provável" que a quantidade de chuvas aumente nas maiores latitudes e diminua na maior parte das zonas subtropicais (em torno de 20% em 2100), de acordo com as tendências observadas. Ou seja, o mundo enfrentará ainda mais catástrofes "naturais" como enchentes e secas.
O aquecimento será maior nos continentes do que nos oceanos, assim como nas latitudes norte. No sul e em partes do Atlântico Norte as temperaturas subirão menos.
A conhecida Corrente do Golfo, no Atlântico, se arrefecerá em torno de 25% durante este século, embora isso não impeça a elevação das temperaturas na região.
Os autores do relatório lembram que desde que foram iniciados os registros climáticos confiáveis, em meados de século 19, 11 dos 12 anos mais quentes ocorreram a partir de 1995.
Além disso, as concentrações de CO2 aumentaram no período entre 1995 e 2005, em 1,9 partícula por milhão ao ano.
O relatório, que pretende estabelecer as conclusões das bases científicas da mudança climática, é o primeiro de vários que o IPCC divulgará nos próximos meses sobre o impacto do aquecimento e as formas de contê-lo, além do documento de síntese, que deverá ser apresentado em Valência (Espanha) em novembro.
De acordo com a organização ecológica Greenpeace, o informe do painel intergovernamental aciona o "sinal de alerta" necessário para impulsionar os governos à ação.
"Se o último relatório do IPCC em 2001 nos fez despertar, este é um sinal de alerta. A boa notícia é que nossa compreensão do sistema climático e do impacto humano melhorou, a ruim é que nosso futuro parece perigoso", afirma a organização em um comunicado.
Diante das previsões desalentadoras, os cientistas esperam que a comunidade internacional apresente uma resposta vigorosa e unida que implique na continuidade do Protocolo de Kyoto, destinado a reduzir as emissões de dióxido de carbono, cuja primeira fase expira em 2012. No entanto, este protocolo ainda não foi ratificado pelos Estados Unidos, maior poluidor mundial.
* Com agências internacionais
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