Por John Kay
Valor Econômico / Opinião
11/01/2007
Antropólogos comprovaram que diferentes culturas desenvolvem, independentemente, mitos similares: histórias que nos são familiares, como o mito da Queda e o mito do Apocalipse, que satisfazem necessidades humanas profundas. A tradição cristã descreve a tentação de Adão e Eva e adverte para o Juízo Final. Na Europa, essas histórias já não causam o mesmo impacto que no passado. O ambientalismo hoje satisfaz, para muita gente, o anseio generalizado por narrativas simples e envolventes. O ambientalismo oferece uma abordagem alternativa ao mundo natural para os religiosos e uma abordagem alternativa ao mundo político para os marxistas.
A ascensão do ambientalismo é paralela, no tempo e no espaço, ao declínio da religião e do socialismo. O ambientalismo abraça o mito da Queda: a desarmonia entre homem e natureza provocada por nossa sociedade materialista. Al Gore relatou as palavras do Chefe Seattle, quando sua tribo cedeu suas antigas terras: "Vocês ensinarão seus filhos o que nós ensinamos a nossas crianças? Que a Terra é nossa mãe?" Mas esse Éden perdido nunca existiu. Os seres humanos vêm queimando e digerindo seu meio ambiente desde tempos imemoriais.
Os primeiros americanos cruzaram o Estreito de Bering e mataram cada animal manso que viram. O Chefe Seattle vendeu sua herança por uma vida de luxo e seu eloqüente discurso foi redigido por um roteirista de televisão. Mas os mitos sempre pertenceram ao reino da literatura, não à história ou à ciência: os épicos clássicos e os grandes livros religiosos são tesouros culturais e seu valor educacional não se deve a sua verdade literal.
O mito do Apocalipse é igualmente familiar. Nossa perversidade corrompeu nossa herança e, embora seja quase tarde demais, reformas imediatas podem transformar nosso futuro. Os cristãos esperam a segunda vinda de Cristo e os marxistas aguardam o colapso do capitalismo com a mesma mescla de temor e expectativa.
De início, faltava ao ambientalismo um mito persuasivo do Apocalipse. A litania da degradação ambiental teve de confrontar-se com o fato inequívoco de que muitos aspectos do ambiente estavam melhorando continuamente, com a limpeza crescente do ar, dos rios e dos litorais.
A descoberta do aquecimento mundial preencheu uma lacuna no cânon. É por isso que os ambientalistas atribuem tanta importância à afirmação de que o mundo está não apenas esquentando, o que é inequivocamente verdade, mas também que é nossa a culpa por esse aquecimento, o que é menos evidentemente verdadeiro.
O nexo entre concentrações de dióxido de carbono e expansão industrial trazem a justificativa para o vínculo entre pecados do passado e a catástrofe do futuro
O nexo entre as crescentes concentrações de dióxido de carbono e o crescimento da sociedade industrial moderna proporcionam a justificativa para o vínculo entre os pecados de nosso passado e a catástrofe de nosso futuro.
Os evangelistas do ambientalismo, portanto, não estão interessados em soluções pragmáticas para a mudança climática ou soluções tecnológicas para ela. Eles estão ainda menos interessados em evidências do que no fato de que, se estivéssemos realmente interessados na redução das emissões de carbono, nós poderíamos fazê-lo em grandes quantidades sem afetar significativamente nossas economias ou nossas vidas.
Cataventos nos telhados e pedalar de casa ao trabalho são iniciativas de conseqüência prática insignificante, mas não é essa a questão. O fato é que toda ideologia exige a prática de rituais que demonstrem o engajamento dos seguidores.
As empresas deveriam tratar o movimento ambientalista como tratam outras formas de crença religiosa. Líderes empresariais não precisam, eles próprios, crer nessas doutrinas. Na realidade, isso seria algo a temer: empresas vinculadas a fé e ideologias constituem um poder sinistro e incontrolável. Mas as empresas devem respeitar os sistemas de crenças dos países onde operam e identificar tanto as limitações impostas por essas estruturas como as oportunidades comerciais delas resultantes.
A maioria das iniciativas ambientalistas já colocadas em prática - gradual abandono dos fluorocarbonetos (CFCs), fontes renováveis de energia e comercialização de direitos de emissão - têm grandes lobbies comerciais em sua defesa. Ainda assim, os mitos desempenham um papel social valioso e as intenções de seus defensores são geralmente benignas. O impacto social de religiões e ideologias, para bem e para mal, não depende muito da veracidade factual de suas narrativas. A intimação para que sejamos cuidadosos quanto ao impacto de nossas ações no ar, na terra e na água é apropriada. O risco do evangelismo ambientalista está em que rituais, gestos e retórica substituam o substancial.
janeiro 31, 2007
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3 comentários:
Bom... isso NÃO me ajudou em praticamente nada em minha pesquisa escolar!!!! Seja mais intteligente seu burro!!!
como o anonimo disse isso nao me ajudou em nada!
Não ajudou em porcaria nenhuma fiquei boiando e pulei a questão
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